Paulo Guedes quer vincular o Censo aos gastos com a pandemia

  • 20/04/2021
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, estuda uma forma de juntar a verba para a pesquisa do Censo Demográfico ao bolo dos créditos orçamentários para os programas de Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEM) e Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). O governo tenta encaixar cerca de R$ 1 bilhão no meio dos R$ 15 bilhões que serão destinados aos dois programas. O montante adicional de recursos para o IBGE caberá, é claro, dentro teto de gastos. O arranjo visa recompor, ainda que não integralmente, a redução da verba do Censo Demográfico de R$ 2 bilhões para R$ 71 milhões. A irrisória cifra inviabiliza o Censo e, com ele, toda a memória estatística detalhada da pandemia. Haveria ainda um segundo movimento vinculado a essa engenharia orçamentária. Paulo Guedes aproveitaria a medida para resgatar uma velha obsessão (ver RR de 26 de agosto de 2019): ter um grande centro de pesquisas ao seus pés. Para isso, juntaria o IBGE ao IPEA, subordinando o primeiro ao segundo.

Trata-se de uma medida de ordem política, já que, na realidade, as duas instituições não têm tanta sinergia assim. O IBGE sempre foi um cluster do funcionalismo de esquerda no governo. São comuns greves e manifestações na autarquia. Guedes diz que “amansaria” o IBGE com a fusão. Se acontecesse hoje, a mega instituição seria dirigida por um dos seus mais fiéis “Chicago old”, Carlos Von Doellinger, que ocupa a presidência do IPEA.

O objetivo do novo “IPGE” parece óbvio. Ou seja: colocar a mão pesada do governo sobre as estatísticas, contas nacionais e pesquisas multidisciplinares. Os recursos para o Censo seriam alocados no orçamento como uma iniciativa necessária à Saúde. A medida, se não reconstrói a imagem de Paulo Guedes na academia, algo que ele tanto preza, mitigaria a ideia de que o cancelamento do Censo não mirou o fiscal. Foi, sim, uma vilania, não só cívica, como intelectual.

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