Jair Bolsonaro é o eleito do empresariado

  • 27/09/2022
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Os dirigentes empresariais estão fechados com Jair Bolsonaro. É o que mostra sondagem realizada pelo RR junto a executivos de 96 companhias. Diante da polarização entre os dois candidatos líderes das pesquisas, a newsletter perguntou: “Entre Jair Bolsonaro e Lula, qual é a sua intenção de voto?”. Resultado: Bolsonaro teve 59%, contra 41% do petista. A enquete foi dividida por dez segmentos da economia, arbitrados pela newsletter em razão da sua importância e representatividade: construção pesada, bens de capital, financeiro, varejo, energia, bens de consumo não duráveis, petroquímica/química, tecnologia, automobilístico e agronegócio.

Cabe ressaltar que há uma assimetria entre o número de entrevistados em cada setor, devido a diversos fatores, como a concentração de players em determinados segmentos e o total de executivos que aceitaram participar da sondagem. De qualquer forma, o RR considera que, em razão da importância dos dirigentes e o retrato dos setores, a enquete guarda uma boa representatividade. Os dados oferecem subsídios valiosos para se identificar os setores mais afeitos ou refratários a cada um dos dois candidatos. Os números evidenciam que o PIB brasileiro pende a favor de Bolsonaro: o candidato à reeleição teve maior votação entre os executivos de seis dos dez segmentos. Não chega a ser exatamente uma surpresa. Os pilares da política econômica de Bolsonaro ou especificamente do seu ministro Paulo Guedes são mais palatáveis ao empresariado do que o ideário pregado pelo PT. Se o atual governo não conseguiu entregar mais – reformas, concessões, privatizações etc – isso se deve à pandemia.

 

 

É importante ressaltar que, em todos os setores em que lidera as preferência de voto, Jair Bolsonaro aparece como uma margem razoavelmente folgada em relação a Lula. A maior diferença veio do agronegócio: 79% a 21% em favor do presidente. O candidato à reeleição lidera também com ampla vantagem as intenções de voto no setor financeiro: 67% a 33%. Outra área bastante favorável a Bolsonaro é o de tecnologia (TI, softwares, games e startups): 65%, contra 35% de Lula – número certamente alimentado pelas seguidas desonerações fiscais a segmentos dessa indústria. O presidente teve uma votação semelhante entre os dirigentes empresariais do mercado de energia (que englobou empresas do setores elétrico e de óleo e gás): 67%, contra 33% atribuídos a Lula. Nesse caso, nem é necessário evocar qualquer realização do governo Bolsonaro. Basta lembrar da desastrosa intervenção de Dilma Rousseff nas tarifas de energia para entender a rejeição ao candidato petista.

Não obstante a preferência majoritária por Jair Bolsonaro, Lula tem seus redutos eleitorais entre empresários que muito provavelmente oscilam entre uma saudosa memória do que foram e um profundo descontentamento com o que são. Na sondagem do RR, o petista levou vantagem sobre Jair Bolsonaro junto aos dirigentes empresariais dos setores bens de consumo (58% a 42%); construção pesada (60% a 40%) e bens de capital (67% a 33%). No primeiro caso, a liderança de Lula nas intenções de voto pode ser atribuída à memória da farta concessão de crédito em seu governo e do consequente impacto sobre o consumo. Já as indústrias de bens de capital e de construção pesada, especialmente esta última, foram setores que viveram tempos de bonança no governo Lula, acabaram duramente atingidos pela Lava Jato e não tiveram qualquer apoio da gestão Bolsonaro para a sua recuperação. No ano passado, por exemplo, o PIB da construção pesada caiu 8,3%, enquanto o Produto Interno Bruto como um todo subiu 4,6%. O PIB do setor, ressalte-se, acumula perdas reais de 51,4% desde 2014.

O RR também perguntou aos executivos consultados como eles avaliam as políticas do governo Bolsonaro para seus respectivos setores. Como seria de se esperar, as respostas conversam com as intenções de voto apuradas em cada segmento econômico. O agronegócio confirmou ser uma “república bolsonarista”: 71% dos entrevistados classificaram a gestão do presidente como “ótima”. Outros 21% consideram o governo “bom” para o segmento, e apenas 8% cravaram a resposta “regular”. Nenhum dos entrevistados do agronegócio avalia a administração Bolsonaro como “ruim”. O mesmo ocorreu entre executivos da área financeira: nenhum dos respondentes entende que o governo é “ruim” para o setor, ainda que os resultados não sejam tão favoráveis ao candidato à reeleição quanto no agronegócio. Dos entrevistados, 33% qualificam o governo como “regular”. A maioria, 67%, avalia o atual presidente como “bom”.  Entre os executivos da área financeira, ninguém escolheu a opção “ótimo”.

 

A enquete revela também a alta aceitação de Jair Bolsonaro entre o setor de tecnologia: o governo foi considerado “ótimo” por 55% dos entrevistados e “bom” por 20%. Apenas 15% e 10% classificam a política do presidente, respectivamente, como “regular” ou “ruim”. Os dirigentes da indústria petroquímica também veem as ações de Bolsonaro como positivas para o seu segmento. Um universo de 75% dos entrevistados avalia o governo como “ótimo” (25%) e “bom” (50%). Outros 25% entendem a gestão como “regular” e nenhum dos respondentes do setor considera “ruim”.   A pior avaliação de Bolsonaro vem, como não poderia deixar de ser, de setores com predominância de intenção de voto em Lula. Nenhum dos dirigentes da indústria da construção pesada respondeu que o governo é “ótimo” para o setor. Outros 20% classificam como “bom”. A maioria das respostas se concentra em “regular” – 60%. Por sua vez, 20% dos executivos avaliam a política de Bolsonaro para o segmento como “ruim”.

O setor de bens de capital é ainda mais hostil ao atual presidente. A maioria dos dirigentes que participaram da enquete reputa a atual gestão como “ruim” (50%) ou “regular” (33%). Apenas 17% classificam como “boa”. E nenhum dos executivos da indústria de bens de capital respondeu que a política de Bolsonaro é “ótima” para o seu setor. Um dado curioso é a avaliação da gestão junto à indústria de bens de consumo não duráveis (a sondagem abrangeu empresas de alimentos e de bebidas). Ainda que Lula tenha liderado nas intenções de voto entre os dirigentes do setor, os entrevistados majoritariamente consideram o governo Bolsonaro “ótimo” (25%) ou “bom” (58%). Apenas 17% dos consultados classificam a política do presidente como “regular” (9%) ou “ruim” (8%). A aparente contradição entre a tendência de votação majoritária em Lula e a avaliação favorável de Bolsonaro pode ser atribuída ao impacto positivo do Auxílio Brasil e de outras medidas econômicas sobre o poder de compra da população. É possível inferir que, se a mesma sondagem fosse realizada há poucos meses, antes da criação do benefício, talvez Bolsonaro não tivesse uma avaliação tão favorável entre fabricantes de alimentos e bebidas. No geral, contabilizando-se os dez setores do levantamento, o governo do presidente Jair Bolsonaro teve a seguinte avaliação dos dirigentes ouvidos pelo RR: “ótimo” (29%); “bom” (33%); “regular” (27%); “ruim” (11%).

Além da percepção sobre o governo Bolsonaro, o RR procurou auscultar também as expectativas dos dirigentes empresariais sobre o possível retorno de Lula ao Poder. A newsletter perguntou aos 96 executivos: “Você acha que uma eventual eleição do ex-presidente Lula trará mudanças positivas ou negativas em relação às políticas para o seu setor?”. O cenário mais favorável ao petista veio da indústria de bens de capital – não por coincidência, área em que Bolsonaro somou um dos piores índices de avaliação na mesma enquete: 83% entendem que o retorno de Lula será ao favorável ao segmento; apenas 17% dizem o contrário. Também no segmento de construção pesada, a avaliação é que a saída de Bolsonaro seria benéfica: 60% entendem que a eleição de Lula trará mudanças positivas e somente 40%, negativas.

Um dado curioso é a avaliação do setor financeiro. Entre os executivos entrevistados, 67% avaliam que a volta do ex presidente terá um impacto positivo sobre o segmento – ao passo que 33% consideram que a eleição do petista será negativa. De uma maneira geral, trata-se de um segmento da economia que não vota em Lula, como a própria sondagem do RR comprova. Mas não se pode negar que o setor financeiro foi bem contemplado pelo petista em seus oito anos de mandato, com resultados altamente lucrativos. A lembrança da concessão de crédito e do salto do poder aquisitivo da população entre 2003 e 2010 certamente move também a avaliação dos dirigentes empresariais do varejo. Entre os entrevistados, 68% dizem que o retorno de Lula terá efeitos positivos para o setor – 32% vão pela mão oposta. Talvez por motivos análogos aos do varejo, algo similar ocorre na indústria de bens de consumo não duráveis: 67% entendem que a eleição do petista será benéfica.

Lula, no entanto, é malvisto por outros importantes segmentos da economia, a começar pelo agronegócio, seu grande calcanhar de Aquiles junto ao empresariado. Entre os executivos do setor responsável por mais de 27% do PIB, 71% avaliam que uma eventual eleição de Lula trará consequências negativas para a agricultura e a pecuária. A área de energia também demonstra uma considerável rejeição ao ex-presidente: 78% afirmam que sua volta ao Palácio do Planalto trará mudanças negativas para as empresas de energia elétrica, óleo e gás. Também na área de tecnologia, a expectativa em relação a Lula é bastante desfavorável: 75% dos dirigentes entrevistados pelo RR afirmam que a presença do petista no Poder terá impacto negativo sobre o segmento. No cômputo total, uma eventual eleição de Lula terá impacto negativo para a economia na opinião de 51% dos entrevistados.

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