Buscar
Destaque
Química por química nada parece superar as relações entre Brasília e Pequim. O governo Lula está costurando um novo acordo com a China no agronegócio, que combina aumento das exportações de grãos e fomento à agricultura familiar no Brasil.
Segundo uma fonte do Itamaraty, as tratativas contemplam a concessão de crédito a pequenos e médios produtores para a aquisição de insumos e equipamentos agrícolas e construção de armazéns e silos, além de transferência de tecnologia para monitoramento de lavouras. Parte dos recursos deverá sair do Agricultural Development Bank of China (ADBC), banco estatal responsável por financiar projetos de política agrícola não apenas em território chinês, mas em países parceiros.
Como contrapartida, o crédito estará vinculado à garantia de fornecimento ao país asiático de parte da produção dos agricultores beneficiados e à compra preferencial de tratores e colheitadeiras junto a fabricantes chineses. É um jogo de ganha-ganha. Do seu lado, Pequim mira na segurança alimentar e na oportunidade de engendrar um mercado para sua indústria de máquinas agrícolas; do lado brasileiro, além de mais adubo nas relações bilaterais com a China, de quebra o acordo pode trazer dividendos adicionais.
Dentro do governo, há quem enxergue na iniciativa um potencial bônus político e eleitoral para Lula, na esteira dos recursos que vão cair na horta da agricultura familiar. O segmento concentra mais de 60% das pessoas que atuam na agropecuária no Brasil, algo em torno de 10 milhões de trabalhadores. Ao todo, são quase quatro milhões de estabelecimentos rurais de base familiar, que respondem por algo em torno de 23% da área plantada no país. É eleitor que não acaba mais.
A primeira semente do acordo foi plantada em maio, durante visita do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, a Pequim. Na ocasião, os dois países assinaram um memorando de entendimentos para impulsionar a mecanização e a tecnificação da agricultura familiar no Brasil. De lá para cá, as conversas avançaram.
A estatal Sinomach, uma das maiores indústrias de máquinas agrícolas da China, acena com a construção de duas fábricas de tratores no Brasil. A primeira delas deverá ficar no município de Maricá, na Região dos Lagos do Rio. No ano passado, a China enviou um lote de 30 colheitadeiras e plantadeiras para serem testadas no Rio Grande do Norte, a maior parte delas em áreas de plantio do MST.
Todos esses movimentos devem ser vistos como mais uma peça no quebra-cabeças geoeconômico que vem sendo montado pela China, com o objetivo de consolidar uma posição estratégica no agronegócio brasileiro. Não é de hoje que o Brasil ocupa uma posição de centralidade no suprimento proteico para a população chinesa.
São seguidos investimentos dentro desta lógica. Em menos de uma década, a Cofco International, umas das grandes tradings agrícolas do mundo, se tornou um dos três maiores compradores de grãos do Brasil – mais de 80% dos embarques têm como destino a China. Além disso, o conglomerado asiático controla estruturas de armazenagem e terminais graneleiros no país.
Paralelamente, a China firmou um acordo com o Brasil para investimentos na recuperação de 12 milhões de hectares de terras degradadas até 2030 – o equivalente a 12% da área total plantada no país.
Todos os direitos reservados 1966-2025.