Até quando a democracia resiste à estupidez?

  • 22/04/2020
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A notícia que ninguém quer dar e já está dada: ao contrário dos outros países que atravessam o flagelo da pandemia, todos igualmente sofrendo as agruras de uma crise econômica, o Brasil é o que apresenta as variáveis perfeitas para agregar também uma conflagração sócio-política. Nenhuma outra nação reúne condições de clima e temperatura tão propícias para a tempestade perfeita. Por ora, impotentes, seguimos com medo. Da morte, do desemprego, do desamparo, do atraso, do autoritarismo. Mas, também o medo de Jair Bolsonaro, do retrocesso nas Forças Armadas, da secessão dos brasileiros, do comportamento do Congresso Nacional, do golpe, do autogolpe, do impeachment, dos próximos 100 dias.

A premissa é que não há equilíbrio possível com Bolsonaro. E, no curto prazo, também sem ele. São as trevas. Pois todos os cenários prováveis levam a algum tipo de conflagração sócio-política. Há cidadãos em número suficiente apoiando teses pró e lesa Estado de direito. Todos os brasileiros perderão se o país ceder ao chamado do radicalismo. A crise embala consigo o risco do cadáver da democracia. Não há nenhuma condição de Jair Bolsonaro mudar seu comportamento.

O capitão se ampara nos seus fieis. São eles que vão e irão às redes e às ruas, belicosos. Há também alguns bolsões militares que começam a se manifestar por meio de suas representações da reserva, vide as recentes cartas do Clube Militar. Se não tiver forte simbolismo o fato de o presidente da República discursar em frente ao Quartel General do Exército em apoio a populares que clamavam pela intervenção das Forças Armadas, então nada mais tem. O Congresso pode ceder diante de tanta falta de decoro e humilhação e abrir um processo de impedimento.

É hipótese mediana. O mercado pode se esfacelar. Uma hipótese a se considerar. Em uma escalada de desordem pública, com um cenário de todos contra todos, os militares seriam chamados a intervir. Trata-se da hipótese “Deus nos livre”. Estariam dadas as condições para uma variada palheta de golpes, a exemplo do autogolpe, do golpe parlamentar, do golpe militar clássico, entre outros. Uma hipótese que já foi menos provável. O presidente já disse que a Constituição é ele – numa ver-são menos rebuscada de Luís XIV (“L’État c’est moi”). Como sempre, a fala de Bolsonaro será reinterpretada para amainar a sua estultice. Mas a verdade é que ele acredita naquilo que diz. Os panelaços aumentarão. As vendas de armas já triplicaram no período pandêmico. As empresas do setor trabalham com 0% de capacidade ociosa. O mercado de jazigos está aquecido, com os preços crescendo 80%. Parece o apocalipse, mas não é. É uma crise, parte exógena, a outra, fomos nós mesmos que fizemos. Não há como não ser engolfado por ela. É ver se o Brasil consegue sair melhor lá na frente.

#Forças Armadas #Jair Bolsonaro

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