Acervo RR

O passado bate Á  porta de Nelson Sirotsky

  • 17/10/2012
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O empresário Nelson Sirotsky deveria ter feito um acordo com as três Nornas, símbolos femininos da fé inexorável nórdica, conhecidas como Urdar, Verdandi e Skuld, que indicam o passado, a atualidade e o futuro. Narcisista e prepotente, Nelson preferiu acreditar que ele próprio era o tecelão do destino da RBS e o guardião da sua consanguinidade na regência do grupo. Não custou muito para que a ampulheta do tempo testasse suas convicções. Do seio da própria família emergiu o cavalheiro Marcos Dvoskin, exmarido de Sônia, uma das irmãs de Nelson e acionista da RBS. Eram tempos heróicos, quando a garra e a vontade de vencer se sobrepunham nos Pampas. Marcos assumiu a diretoria de mídia do grupo, tendo um papel de louvor no desenvolvimento do Diário Catarinense – algo que até Nelson reconhece. Sua trajetória no conglomerado gaúcho foi, no mínimo, exemplar, com o cumprimento de 28 anos de carreira na casa. Ao contrário de Nelson, para quem tanto brilho tinha que ser ofuscado, o dono de fato e de direito da RBS, Maurício Sirotsky, a  época sogro de Marcos, nutria pelo genro grande amizade. Reza a lenda que Marcos e Maurício foram os mais devotados parceiros até o fim da vida do patriarca. Veio, então, a separação de Marcos e Sônia. Nelson fez gosto, afinal as Nornas empurravam aquele rapaz para sua sucessão. Marcos saiu e foi ser diretor-geral da Editora Globo, em São Paulo, cargo no qual mais uma vez se destacou. A seguir, comprou o espólio da Manchete, de onde tirou leite de pedra. Vale recordar que Marcos começou a vida como motorista de táxi, sem o aplomb, portanto, que Nelson exigia para o mais alto cargo do grupo. Ah, e havia o sangue plebeu. A roda do destino girou mais uma vez e quiseram as Nornas que um outro quadro irradiante brotasse do solo da RBS. O talentoso executivo atende por Francisco Valim, que entrou no grupo com a bênção e o chamego de Nelson Sirotsky, galgando até o cargo de vice-presidente financeiro da RBS Participações. Valim suou a camisa para dar a solidez que a empresa nunca teve, sendo o grande responsável pela capitalização do grupo. O executivo, conforme Nelson espalhava a torto e a direito, estava sendo preparado para se tornar seu sucessor. Muitos acreditaram que eram palavras sinceras. Mas a realeza sabia que o destino do VP financeiro eram favas contadas. Havia o sangue impuro. Dito e feito. Valim foi parar na Telemar em episódio nebuloso de perda da titularidade na RBS. Não fosse a onipotência, Nelson já teria se penitenciado mil vezes por tê-lo deixado sair. A terra rodou mais milhares de vezes até chegar ao proscênio da saga dos Sirotsky: o comando do império por Eduardo Melzer. O jovem mandatário começou a trabalhar como um franqueado de venda de balas açucaradas em lojas de shopping. Estava ali bem assentado, com o gosto doce pela vida. Foi, então, que seu pai, Carlos Melzer, perguntou-lhe, em tom de intimação: “Você vai continuar vendendo bala o resto da vida? Vai logo para a RBS.” Duda tinha sangue azul. Sua ascensão dependia só de Nelson. E a profecia se cumpriu. Talvez tenha sido esse o maior castigo de Nelson por querer jogar dados com o universo. Sofrimento maior somente se um dos acionistas controladores ? sangue do seu sangue – vendesse sua parte, cindindo um reinado que já parece flertar com a acefalia. Melhor não desdenhar do destino, e jogar melhor as cartas que ele embaralha.

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