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Visões de outro mundo unem BTG e Santander

  • 2/02/2012
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Uma rosa é uma rosa é uma rosa, disse Gertrude Stein. O banqueiro André Esteves, controlador do BTG Pactual, talvez replicasse, afirmando que um sonho dentro de um sonho é um sonho dentro de um sonho é um sonho dentro de um sonho. Lá, naquele distante condomínio onírico, Esteves poderia muito bem comprar o UBS – quase comprou na vida real – , o HSBC, o Itaú para ir mais distante, ou a operação do Santander Brasil, bem mais viável. Os segredos do sistema bancário nacional, como todos os demais, ziguezagueiam no inconsciente. Como diria Nelson Rodrigues, até as cotias do Campo de Santana sabem que há uma lógica, uma lógica e uma lógica no propósito de Esteves com a aquisição do Banco PanAmericano: o crescimento por aquisição. A expansão orgânica anda como um caramujo em um mercado hiperconcentrado. Ela é a antítese do temperamento do líder do BTG Pactual. Mas, voltemos aos sonhos, nos quais lá também uma lógica é uma lógica é uma lógica. Por exemplo, o BTG Pactual, com o suporte da Caixa Econômica Federal, sócia minoritária no PanAmericano, compraria, através deste último, a operação do Santander no Brasil, que já anda meio carcomida, com rentabilidade declinante e indexada aos problemas da matriz, materializando o fantasma da contaminação da crise financeira europeia no sólido ambiente da banca verde-amarela. Pausa para um profundo sonho de Dilma Rousseff, que se tornou próxima de Esteves: a presidente sorriria de soslaio, no seu sono profundo, se fosse nacionalizada a terceira maior instituição financeira privada do país em volume de ativos. A CEF pegou carona na primeira estação do PanAmericano para tentar evitar o pior. Quando chamou o BTG Pactual foi para não deixar o banco quebrar. Agora seria a hora de ser um esteio para a alavancagem de Esteves com objetivo da criação do Santander/PanAmericano. E quando se trata de alavancagem, o ex-Pactual boy não é de brincadeira. Nas libações inconscientes do nosso herói, o universo é uma vibração do diapasão perfeito. A CEF se torna minoritária com uns 30%, por exemplo, ficando forte, diversificada, rentável. Esteves se despiria dos 51% do capital e seria o controlador com uma margem mais folgada, com espaço para bons coadjuvantes, tais como a Funcef. Entre secos e molhados, o PanaAmericano vitaminado e idealizado seria uma versão do Banco Votorantim com colírio e comando efetivo dos Ermírio de Moraes. Um banco mais parrudo sem, sombra de dúvida, e com capacidade de fazer um estrago nos mercados de crédito ao consumidor e consignado, além das operações com fundos e créditos imobiliários. Nos seus devaneios em um plano inatingível, Esteves se sente um generoso credor do governo. No meio do tiroteio do PanAmericano aceitou ir para o front e engolir o ex-banco de Silvio Santos. Serviu de anticorpo para debelar uma infecção que poderia se espalhar pelo sistema financeiro. O apoio para deglutir o Santander, tornando-se o terceiro maior banco privado do país, seria um infinito frente a  crise sistêmica, cósmica, que ocorreria se o espadachim não assumisse o seu posto. Nesse mundo não linear, o que faz sentido não faz, mesmo quando deveria, e vice-versa. O Santander Brasil é um peixe enorme. Bons sonhos, André!

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