É alta a percepção de que Jair Bolsonaro não concluirá o seu mandato

  • 3/04/2019
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Sondagem RR

O presidente Jair Bolsonaro não vai chegar ao fim do seu mandato. Este é o veredito da maioria dos 230 assinantes do Relatório Reservado – dirigentes empresariais, banqueiros, juristas, parlamentares, cientistas políticos e analistas de mercado – consultados pela newsletter entre os dias 22 e 26 de março. Questionados sobre a hipótese de Bolsonaro não completar os quatro anos de governo, 69% dos entrevistados consideraram esta probabilidade alta (58%) ou média (11%). Apenas 31% classificaram como baixo o risco de o presidente da República não concluir seu mandato. Ressalte-se que esta foi a primeira pergunta feita aos entrevistados na enquete, justamente com o objetivo de evitar que a resposta eventualmente fosse influenciada pelo restante do questionário. Antes que o leitor tire conclusões precipitadas, informamos que a motivação desta sondagem são as recorrentes menções à hipótese do presidente não cumprir os quatro anos de mandato. Pode se afirmar que praticamente todos os colunistas da imprensa tangenciaram o assunto em determinado momento, mesmo que o objetivo, em alguns casos, fosse considerar a tese despropositada. De qualquer forma, a repetição do tema é um fato em si só. É importante enfatizar também que esta não é uma pesquisa quantitativa, mas uma sondagem de sentimento. As percepções em relação ao governo captadas nesta enquete podem ser explicadas pela incapacidade de fazer a economia reagir, falta de apoio dos empresários, perda de popularidade, incompetência na articulação política, suspeições sobre a própria família Bolsonaro, deterioração do relacionamento com a mídia profissional, problemas que se repetem nestes primeiros três meses de gestão.

O risco vem dos demais Poderes

De acordo com a sondagem, o Congresso Nacional é percebido como o front de maior ameaça à continuidade da gestão Bolsonaro. O RR perguntou aos seus assinantes “Caso você tenha considerado como alta ou média a probabilidade de um eventual afastamento do presidente Jair Bolsonaro, qual é o principal grupo de pressão que poderia precipitar a abreviação do seu  mandato?” O Legislativo recebeu 32% das respostas, certamente motivadas pelas repetidas crises no relacionamento entre o Palácio do Planalto e o Parlamento e incapacidade demonstrada pelo governo até o momento em conduzir a articulação política. Na sequência, o Judiciário foi apontado por 28% dos consultados. De alguma forma, a percepção de que o Legislativo e o Judiciário podem vir a ser os dois maiores responsáveis por um eventual impedimento do presidente reproduz o passado de uma maneira transversa. Bolsonaro foi um dos apoiadores das ações nos dois Poderes que culminaram com a queda da presidente Dilma Rousseff. As demais respostas mostram um elevado grau de pulverização. À exceção do Legislativo e do Judiciário, nenhum outro grupo de interesse atingiu mais de 10% na enquete. Os empresários receberam 8% dos votos. Trabalhadores e sociedade organizada, que, de alguma forma, podem ser vistos como blocos geminados, tiveram, respectivamente, 8% e 7%. A mídia foi apontada por 6% dos assinantes como o principal grupo capaz de levar ao impedimento de Bolsonaro. O dado mais representativo, no entanto, talvez seja o reduzido volume de respostas para os militares – também 6%. Ou seja: a sondagem desfaz a percepção, existente em alguns setores da sociedade, de que as Forças Armadas poderiam vir a ser um eventual agente de desestabilização do atual governo. Por último, apenas 5% dos consultados entendem que todos os grupos de interesse citados na sondagem seriam responsáveis, numa espécie de ação compartilhada, por um eventual afastamento de Bolsonaro.

 

O perigo mora no Congresso

O Congresso está no cerne de outra pergunta da sondagem. O RR indagou aos consultados “Caso você tenha considerado como alta ou média a probabilidade de um eventual afastamento do presidente Jair Bolsonaro, na sua avaliação qual o principal motivo que levaria à  eventual interrupção do mandato?” O esgarçamento das relações com o Legislativo liderou as respostas, com 26%. Na sequência, apareceu o quesito “Falta de decoro”, com 14%. Ou seja: entre aqueles que consideram expressiva as chances de um afastamento de Bolsonaro, as atitudes do presidente são vistas como um potencial detonador desse processo. A crescente impopularidade do Capitão ficou com 11%. Logo a seguir, veio a crise econômica, com 10%. Para 9% dos consultados, um impeachment poderia vir pela contaminação por atos familiares. Trata-se de um ponto curioso, no qual Bolsonaro não seria o agente, o protagonista da ação, mas, sim, refém de eventuais malfeitos de seus filhos, notadamente Flávio Bolsonaro, às voltas com o caso Queiroz. Empatado com o mesmo percentual (9%) surge uma possível acusação de gestão temerária.  Ainda neste quesito, outra resposta chama a atenção: na avaliação dos assinantes do RR, a saúde do presidente Jair Bolsonaro é vista como um fator maior de risco para a continuidade do governo (8%) do que uma eventual acusação de malversação de recursos (5%). Trata-se de um indício de que a facada ainda está no imaginário das pessoas. Por fim, apenas 3% disseram acreditar na hipótese de uma eventual renúncia do próprio Bolsonaro. Significa que, na avaliação dos entrevistados que tratam como expressiva a probabilidade de afastamento de Bolsonaro, ele se daria por externalidades e não por vontade própria.

Desgosto com a economia

A percepção de descontentamento com os primeiros meses de mandato é reforçada por outra questão da sondagem. Diante da pergunta “O governo está atendendo às suas expectativas na área econômica”, 82% disseram que “não”. Pelo já mencionado corte dos assinantes do RR, é um alerta de insatisfação que vem dos andares mais altos e mais influentes da pirâmide. Entre os assinantes do RR, 79% entendem ser alta (67%) ou média (12%) a probabilidade de o Capitão perder apoio entre o empresariado. Apenas 21%  vislumbram esta possibilidade como baixa. A expectativa é que a  rejeição ao governo se espraie de forma generalizada. Na opinião de 97% dos entrevistados, é alta (80%) ou média (17%) a probabilidade de que a perda de popularidade de Bolsonaro prossiga. Um universo residual, de apenas 3%, classifica esta hipótese como baixa.

A falta que faz a articulação política

O RR também pediu aos seus assinantes para analisar quais são os principais fatores de risco para o governo Bolsonaro, classificando o seu grau de problematização como alto, médio ou baixo. A excessiva interferência da prole de Jair Bolsonaro é vista como um importante motivo de desestabilização da gestão. Para 92% dos ouvidos, a constante intromissão dos filhos em assuntos do governo, notadamente no próprio Executivo, é um fator de risco alto (74%) ou médio (18%). Apenas 8% dos consultados enxergam o notório espaço de Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro como um transtorno menor para o Capitão. Mais uma vez, fica evidente o quanto a incapacidade de articulação política tem deteriorado as avaliações da opinião pública em relação à gestão. Para 89% dos consultados, a dificuldade de entendimento com o Legislativo é um fator de risco elevado (68%) ou intermediário (21%) para o presidente Bolsonaro. Há outra questão delicada que também passa pelo ambiente familiar: as denúncias que pairam sobre o clã Bolsonaro. Para 77% dos entrevistados, o potencial de criminalização da família (leia-se o caso Queiroz e a proximidade com milícias no Rio de Janeiro) é um fator de risco alto (48%) ou médio (29%) para o governo.

Redes sociais

O RR também consultou seus assinantes sobre outra questão visceralmente ligada à excessiva participação dos herdeiros, notadamente de Carlos Bolsonaro, no governo. No total, 87% dos entrevistados consideram o uso indevido das redes sociais como um alto (71%) ou  médio (16%) fator de risco para o presidente. Apenas 13% entendem que a demasiada comunicação por meio do perfil pessoal do presidente da República não é um empecilho relevante. Vem dos Estados Unidos outra ameaça potencial à estabilidade política do governo Bolsonaro. Entre as classificações de alto (51%) e médio calibre (19%), 70% dos entrevistados entendem que a influência danosa de Olavo de Carvalho é uma dificuldade de relevo para o Palácio do Planalto. Os 30% restantes classificaram o “guru da Virginia” como um problema de baixa envergadura para Bolsonaro.

O Fator Mourão

Nem tudo são espinhos. Em contrapartida à crescente reprovação entre os empresários e à perda de popularidade, outro item da sondagem reforça haver a percepção de que o estamento militar se manterá como um dos principais grupos de sustentação do governo Bolsonaro. De acordo com a sondagem, a maioria (68%) considera baixa (52%) ou média (16%) a probabilidade de uma queda do apoio das Forças Armadas a Jair Bolsonaro. Somente 32% dos entrevistados entendem haver possibilidade de um gradativo distanciamento entre os militares e o atual governo. Outra resposta reforça o entendimento de que este amálgama será mantido. Para 91% dos assinantes ouvidos pelo RR, são as altas (64%) ou médias (27%) as chances de uma maior participação de egressos das Forças Armadas no Ministério. É ínfimo, portanto, o índice de entrevistados que considera baixa a probabilidade da entrada de novos militares no primeiro escalão (9%). Ressalte-se ainda que, entre os militares que compõem o governo, a mais representativa figura não é percebida, pela maioria, como um fator de risco para Jair Bolsonaro, não obstante sua crescente projeção. Para 46% dos entrevistados, a proeminência do vice-presidente da República, General Hamilton Mourão, é um problema de baixo impacto para a gestão Bolsonaro. Outros 28% classificaram esta questão com algo de peso médio sobre o governo. Apenas 26% entendem que o notório relevo do General Mourão pode vir a representar um risco à gestão Bolsonaro.

Ministros à beira do precipício

O RR perguntou a seus assinantes o quanto a performance negativa de parcela do Ministério (Educação, Relações Exteriores, Família e Turismo) é um fator de risco para o governo. Para 80%, trata-se de uma ameaça altamente relevante (49%) ou média (31%) para a gestão. Apenas 20% classificaram a performance destes ministros como um problema de baixo significado. Não por acaso, segundo a enquete, há uma grande possibilidade de que Bolsonaro substitua ministros da sua cota pessoal que não têm correspondido às expectativas: 94% consideram alta (82%) ou média (12%) a probabilidade de troca – apenas 6% entendem que tudo ficará como está na Esplanada dos Ministérios. Em contrapartida, a julgar pela sondagem, não há percepção de risco quanto aos superministérios de Bolsonaro. Do total de consultados, 88% consideram que são baixas (72%) ou médias (16%) as chances de Paulo Guedes e Sérgio Moro deixarem o governo. Apenas 12% trabalham com uma probabilidade alta de que isto venha a ocorrer.

Economia cresce

Ainda na pergunta sobre o que acontecerá com o governo Bolsonaro (classificando quanto à probabilidade – alta, média ou baixa), há uma divisão quanto às expectativas em relação à economia. Para 49% são altas (41%) ou médias (8%), as chances de retomada do crescimento econômico em 2019-2020. No entanto, 51% classificam como baixa esta possibilidade. Mesmo com as notórias dificuldades de articulação política, os assinantes do RR acreditam que a reforma da Previdência vai passar. Consultados sobre a ameaça de reprovação da PEC no Congresso, 88% classificaram esta hipótese como baixa (68%) ou média (20%). Somente 12% dos assinantes ouvidos pela newsletter trabalham com o cenário mais caótico e cravam que existe uma alta probabilidade de a grande agenda do governo Bolsonaro – no momento, a única – ser rechaçada pelo Congresso. A relação com a mídia profissional também está no pipeline com uma questão de relevância no mosaico político. Para 81% dos entrevistados, é alta (58%) ou média (23%) a probabilidade de que esta convivência piore ao longo do mandato. Somente 19% consideram baixa a hipótese de atritos ainda mais contundentes. •

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