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Abertis e Brookfield trafegam em sentidos opostos na Arteris

  • 24/04/2024
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Os acionistas da Arteris, uma das maiores concessionárias de infraestrutura do Brasil, estão diante de uma bifurcação. E cada um quer seguir por lados diferentes. Segundo o RR apurou, a espanhola Abertis, sócia majoritária, com 51%, avalia vender sua participação, o que significaria sua saída do país. Por sua vez, a canadense Brookfield, dona dos 49% restantes, está disposta a seguir à frente do negócio. Seria a combinação perfeita – a fome de vender de um com a vontade de comprar do outro – não fosse a agastada relação entre os dois sócios. Assim como duas estradas paralelas, Abertis e Brookfield não se cruzam.

Ambos não conseguem chegar a um entendimento sobre o valuation da Arteris, o que tem inviabilizado qualquer proposta dos canadenses para ficar com a parte em poder dos espanhóis. Enquanto não chegam a um denominador comum sobre o futuro do grupo, Abertis e Brookfield também não se entendem em relação ao presente, com impacto na própria gestão da Arteris. De acordo com uma fonte próxima à empresa, a Abertis estaria defendendo o aumento da distribuição de dividendos e consequentemente da remessa de lucros para a matriz. Mas enfrenta a resistência dos canadenses no Conselho.

A Brookfield prega o reinvestimento dos recursos na própria operação e uma estratégia mais agressiva de participação nos próximos leilões rodoviários. Não chega a surpreender, tratando-se do “polvo canadense”, como o conglomerado era chamado por seus múltiplos negócios no Brasil. Presente no país desde 1899, a Brookfield investiu mais de R$ 30 bilhões apenas nos últimos seis anos. Procuradas, Arteris e Brookfield não quiseram comentar o assunto.

Além dos desencontros entre seus sócios, a Arteris trafega em uma rodovia sinuosa, marcada por ziguezagues regulatórios. Abertis e Brookfield podem até demorar a aparar suas arestas, mas terão de acertar rapidamente os ponteiros em São Paulo e em Brasília, sob risco, no limite, de perda de ativos. Em janeiro, após um longo impasse, a companhia, enfim, assinou um acordo com o governo Tarcísio Freitas para prorrogar a concessão da Intervias de 2028 para 2039. Mas ainda falta fazer um encontro de contas entre as dívidas e créditos da Arteris junto ao estado – os valores sobre a mesa giram em torno de R$ 4 bilhões.

Em outra ponta, a empresa negocia com o governo federal a extensão do contrato da Arteris Fluminense, em linha com a oportuna estratégia do ministro Renan Filho de renovar concessões rodoviárias em troca de investimentos. A empresa se compromete a desembolsar R$ 6,6 bilhões no trecho de 320 quilômetros da BR-101 entre Rio de Janeiro e Espírito Santo. No que depender da Abertis, essa obrigação deverá cair no colo do futuro controlador da Arteris. Assim como no caso da Intervias, o acordo com o Ministério dos Transportes seria fundamental para destravar a eventual venda da holding. Seja para um forasteiro, seja para a Brookfield.

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