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A escolha do nome de Fred Luz, ex-Flamengo, para o cargo de CEO de Corinthians vai além das quatro linhas de uma mudança meramente administrativa. Entre os bancos credores, notadamente a Caixa Econômica, a contratação do executivo é interpretada como um preparativo para o que pode vir a ser a maior recuperação judicial já vista no futebol brasileiro. As peças parecem se encaixar como uma tabelinha entre Sócrates e Casagrande. Luz, que chegou a ser candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo Partido Novo em 2020, comandava até então a área de Sportainment da Alvarez & Marsal, sinônimo de recuperação judicial no Brasil. Talvez o Corinthians não tenha contratado apenas um executivo, mas um “combo”.
A ida de Luz para o clube quase que atrairia por força gravitacional a própria Alvarez & Marsal. Caberia a essa dobradinha preparar o terreno para o pedido de recuperação judicial e conduzir a complexa negociação com os credores. O Corinthians carrega uma dívida superior a R$ 2 bilhões. Esse passivo daria ao clube paulista a oitava posição no ranking das recuperações judiciais em curso no país. Ainda para efeito de comparação, trata-se do dobro do valor incluído no maior pedido de RJ protocolado neste ano – o do Supermercados Dia, com débitos de aproximadamente R$ 1 bilhão. Procurados pelo RR, o Corinthians e a Alvarez & Marsal não se manifestaram.
A Caixa Econômica é, de longe, o caso mais intrincado para o Corinthians equacionar. A dívida referente ao financiamento para a construção da Neo Química Arena passa dos R$ 700 milhões, ou seja, mais de um terço de todo o passivo do clube. No fim de 2022, quando houve uma renegociação com o banco estatal, o valor de face era de R$ 611 milhões. Ou seja: o Corinthians enxuga gelo, pagando apenas os encargos da dívida – cerca de R$ 100 milhões no ano passado – e, ainda assim, a pedra em vez de derreter só aumenta de tamanho. Para piorar, esse é um passivo cheio de peculiaridades e, por isso mesmo, difícil de entrar na recuperação judicial. Em primeiro lugar, o dinheiro não saiu exatamente da Caixa, mas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Além disso, os recursos não foram tomados diretamente pelo Corinthians; a dívida está em outro CNPJ, do Arena Fundo de Investimento Imobiliário – FII. Ressalte-se que o clube tem ainda um endividamento fiscal da ordem de R$ 590 milhões, não sujeito à recuperação judicial. Ou seja, somando-se o passivo tributário ao complicado empréstimo da Caixa, trata-se de um montante de quase R$ 1,3 bilhão que não entraria na RJ. Basicamente, as dívidas que tomariam haircut seriam as trabalhistas e cíveis.
Caso o pedido de recuperação judicial se confirme, o Corinthians entrará em um grupo no qual já estão Sport, Santa Cruz, Náutico, Coritiba, Figueirense e Cruzeiro, entre outros. O clube mineiro responde pelo maior processo, com mais de R$ 680 milhões em dívidas. Além da cada vez mais provável recuperação judicial, a crise financeira corinthiana também aumenta a pressão interna pela criação da SAF e posterior venda do futebol para um investidor. No entanto, tratando-se de quem se trata, esse não é um jogo vertical e muito menos em linha reta.
Além da deterioração financeira, o Corinthians vive internamente uma hecatombe política, com articulações da oposição para o impeachment do presidente Augusto Mello. A situação se agravou com a decisão da casa de apostas VaideBet de romper o contrato de patrocínio que, segundo a direção do clube, previa o pagamento de R$ 370 milhões até 2026. A empresa acionou uma cláusula anticorrupção após a descoberta do pagamento de comissões a uma suposta empresa laranja chamada Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda. – conforme revelou o jornalista Juca Kfouri em seu blog no UOL. E nesse turbilhão, o desgovernando Corinthians balança como um pêndulo entre a Libra, a LFU (Liga Forte União) e a Brax. Recentemente, recebeu desta última uma oferta de R$ 240 milhões pela venda dos direitos de transmissão de seus jogos no Campeonato Brasileiro a partir de 2025 – informação publicada pelo jornalista Rodrigo Capelo, do Grupo Globo.
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