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Política
O casal Bolsonaro está acionando Lula, por danos morais, seguindo o script clássico dos pedidos de retratação e apostando piamente na sua condenação. O presidente, segundo a normalidade dos acordos na Justiça, teria de se desculpar na mesma mídia, usando o mesmo tempo que utilizou nas ofensas a Jair e Michelle Bolsonaro – ao dizer que mais de duas centenas de móveis sumiram do Palácio do Alvorada. Pau que bate em Chico bate em Francisco. Lula não tem como ganhar a contenda, a não ser com o uso de alguma chicana, o que seria uma saída desavergonhada. Talvez consiga publicar a retratação em outra mídia que não a Globonews, veículo de imprensa exigido pelo casal Bolsonaro. Mas não escapará da confirmação de que foi irresponsável, ou no mínimo precipitado, já que mentiu desaforadamente, ao afirmar que 261 móveis desapareceram do Palácio da Alvorada, atribuindo a suposta cleptomania ao casal de moradores anteriores. O casal Bolsonaro também pede R$ 20 mil de indenização que serão doados para a caridade. Os móveis já foram encontrados. Ficará tudo como uma patetice. Só que os residentes anteriores foram tratados como ladrões. É coisa séria.
Em outro tempo e circunstâncias completamente diferentes, o jornalista Paulo Francis, irresponsavelmente, afirmou no ar, em pleno programa de televisão, que os diretores da Petrobras detinham cada um US$ 30 milhões em contas no exterior. Francis não tinha e nem teria jamais como provar essa declaração. O então presidente da Petrobras, Joel Rennó, e toda a diretoria da estatal processaram o jornalista, em Nova York. Ganharam a causa e deixaram Francis desesperado porque não tinha fundos para pagar a fortuna devida. Rennó conta em detalhes o episódio em livro sobre sua trajetória, que acaba de ser lançado. Pois bem, o então presidente Fernando Henrique e José Serra, entre outros personagens influentes, se mobilizaram para que Rennó voltasse atrás, mas todos os diretores que tiveram a imagem conspurcada foram inflexíveis. Francis morreu antes que a novela tivesse um capítulo final. Talvez Rennó e seus subordinados até retirassem a ação. Mas o falecimento do jornalista foi atribuído ao processo por uma quase maioria de formadores de opinião.
No caso de Lula, não se trata de achar US$ 30 milhões, à época irrastreáveis, mas de móveis que, inclusive, foram encontrados quase ato contínuo. Ou seja, não há contravenção alguma da parte de Bolsonaro e de sua esposa. O que há é mais uma declaração desbocada do presidente. Lula não vai morrer por isso. Ao contrário, repetirá várias vezes os desvarios verbais. É da sua natureza. Bolsonaro fica na torcida para que o desafeto continue errando passes no seu campo. Em cada vacilada, fará um estrago nas redes, sua área de maior expertise. Parece até que, na política, trocaram apenas de cadeira. Bolsonaro em sua gestão era seu principal opositor. Lula, ao que tudo indica, gostou do modelo e adotou a “auto fritura”. Fica tudo meio por isso mesmo, com forte tempero de ridículo.
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