A gestão Lula está diante da oportunidade de reabrir uma janela para a exportação de serviços de engenharia. Segundo informações que circulam no Itamaraty, o governo do Peru tem feito consultas ao Brasil sobre a possibilidade de contar com o apoio do BNDES para viabilizar a expansão da sua infraestrutura ferroviária. No curto prazo, há pelo menos dois projetos engatilhados: a construção de um ramal de 300 km entre a cidade de Ica, no Sul do Peru, e Lima e de um segundo trecho de 250 km de extensão ligando a capital ao departamento de Barranca, no Norte do país.
São dois dos maiores investimentos em logística ferroviária previstos em toda a América do Sul: o custo somado beira os US$ 14 bilhões. O governo do Peru pretende reunir um colar de empreiteiras internacionais para tocar as obras. O que se diz no Itamaraty é que, além do Brasil, as autoridades peruanas já apresentaram os projetos a outros 13 países, por meio de suas embaixadas em Lima. Ou seja: a concorrência promete ser acirrada.
O fato é que a iniciativa desponta como uma ocasião oportuna para o Brasil retomar o crédito público à exportação de serviços, dizimado pela Lava Jato. E, assim, pavimentar o caminho para o retorno das empresas de construção pesada brasileiras – as que sobraram – a grandes obras no exterior. Em 2015, o Brasil chegou a ter 3,2% do mercado global de serviços de engenharia; esse índice despencou para 0,5%.
Há ainda uma questão de considerável valor simbólico. As empreiteiras brasileiras foram escorraçadas do Peru no rastro da versão local da Lava Jato. As acusações de corrupção atingiram Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS. Lá, como cá, foi um strike. O eventual apoio do BNDES e a participação de construtoras brasileiras no projeto conversariam também com o plano de integração logística da América do Sul, que envolve, notadamente, Brasil, Peru, Equador e Colômbia.
Trata-se de um daqueles projetos multilaterais que misturam propostas megalômanas e praticamente inexequíveis, como a construção de uma ferrovia transoceânica, a outras ações mais factíveis. É o caso da criação de corredores logísticos para dar saída à produção agrícola do Centro-Oeste e também à Zona Franca de Manaus pelo Oceano Pacífico. As duas novas ferrovias que serão construídas no Peru têm como propósito aumentar o volume de cargas no Porto de Chancay, o megaempreendimento construído com capital chinês, que será inaugurado no próximo dia 17.