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Não se sabe ao certo onde termina o reconhecimento à importância das Forças Armadas para a nação e começam o pragmatismo e o senso de autopreservação de Michel Temer. O fato é que o novo presidente vai governar de mãos dadas com o oficialato. Como se não bastasse o tributo à bandeira no uso do slogan positivista “Ordem e Progresso”, a relevância que Temer dará a esta aliança pode ser medida pela antecedência com que ela foi costurada. Segundo o RR apurou, a estrutura de comando da área de defesa do governo Temer começou a ser alinhavada em setembro do ano passado, quando as discussões sobre o impeachment de Dilma Rousseff se intensificaram e as ruas começaram a efervescer. Esse cenário trouxe a reboque um natural frenesi quanto à hipótese de um quadro de absoluta desordem pública e institucional desembocar em uma intervenção militar, algo que perdurou até a consumação do afastamento de Dilma. Temer tratou de construir suas pontes com as Forças Armadas, contando sempre com a participação decisiva de Nelson Jobim. Candidato de primeira hora de Temer para o Ministério da Defesa, o próprio Jobim recusou o cargo por atuar como advogado de empresas envolvidas na Lava Jato. Mesmo sem se sentar na cadeira de ministro, foi o grande articulador da montagem da equipe de governo para o setor. Curiosamente, os militares queriam a permanência de Aldo Rebello na Defesa, que não aceitou permanecer na gestão Temer. Foi, então, que Jobim sacou o nome de Raul Jungmann e trabalhou pela sua aprovação junto à área militar. Nelson Jobim teve participação decisiva também na escolha de Sergio Etchegoyen para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O ex-ministro do STF é muito amigo do general e de seu irmão Ciro Etchegoyen, relacionamento que vem desde a cidade de Cruz Alta (RS). Foi um momento de inspiração de Jobim. Etchegoyen é duro que nem um carvalho, mas tem um perfil democrata e detona qualquer um que venha pregar como vivandeira junto aos bivaques. O oficial terá sob seu comando uma espécie de “super” Gabinete. A intenção do governo Temer é fortalecer a área de informações de forma ampla, em um aspecto lato sensu. A medida vale não apenas para as Forças Armadas e as polícias civil e militar, mas também para o serviço de inteligência em diversas outras instâncias do Estado, desde o BC e o Coaf, leia-se o monitoramento de movimentações financeiras suspeitas de conexão com o crime organizado e terrorismo internacional, até o Ministério da Agricultura, responsável pelas “fronteiras fitossanitárias” do país. Dentro dessa grande pactuação, é grande a expectativa entre o Alto-Comando Militar que já nos próximos dias Michel Temer anuncie a retomada de projetos estratégicos das Forças Armadas. Espera-se também que o governo apresente um plano para a quitação dos mais de R$ 10 bilhões em dívidas com grandes fornecedores das três Forças, como Embraer e Iveco – ver RR edição de 2 de maio. Outra questão extremamente nevrálgica – e haja ajuda da equipe econômica – é a pressão dos militares por uma melhor política salarial. Uma das reivindicações ao novo governo é trazer para o presente o aumento dos militares concedidos pela presidente afastada Dilma Rousseff. O reajuste, na média de 22%, foi escalonado até 2019. Um soldado, por exemplo, que recebia R$ 1.500, terá de esperar mais três anos para que o soldo chegue a R$ 1.800.
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