O que precisa ser dito

Talvez Donald Trump tenha de parar o carro para trocar os pneus

  • 7/03/2025
    • Share

Alceni Guerra, colaborador especial

Éramos apenas 12 ministros de Estado em 1990, no começo do governo Collor. No segundo dia de governo, um deles falou que estávamos trocando pneu com o carro andando, referindo-se às abruptas medidas de mudanças na economia – e foi assim que a imprensa se referiu a elas.

A inflação era de 84% ao mês, e o pacote econômico incluiu a troca da moeda (de cruzado novo para cruzeiro), a criação de um imposto sobre operações financeiras, o congelamento de preços e salários por 45 dias, o aumento das tarifas de serviços públicos, a extinção de 24 empresas estatais e a demissão de 81 mil funcionários públicos. E principalmente, o inesquecível bloqueio das cadernetas de poupança e das aplicações financeiras, que ficaram retidas no Banco Central por 18 meses. O governo confiscou o equivalente a US$ 100 bilhões, igual a 30% do Produto Interno Bruto, para diminuir o ativo circulante, e zerar a inflação.

Até hoje o ex-presidente Collor se recrimina de algumas medidas, principalmente do bloqueio das aplicações financeiras, que produziu um trauma político jamais recuperado. E a inflação continuou muito alta. Fazíamos concorrências públicas com ela beirando os 50% ao mês, o que tornava cada licitação um mar imaginário de superfaturamentos. Durou até o Plano Real, que foi a volta do macaco para trocar pneus.

Agora, Donald Trump também trocou pneus com carro andando nos seus primeiros dias de governo, e teve de voltar a usar macaco imediatamente, com a suspensão de várias medidas econômicas. Ou, para piorar a expressão, teve de dar a mão à palmatória do México e do Canadá.

Medidas controversas no começo de um governo tornam eufóricos seus eleitores e paralisam sua oposição. Não foi o caso agora dos EUA. Só a oposição interna paralisou. Europa, China, Canadá e México estão a mostrar que um pneu sempre deve ser trocado com… prudência…

#Alceni Guerra #Donald Trump

Leia Também

Todos os direitos reservados 1966-2025.

Rolar para cima