Economia

Só falta o BC dizer que o câmbio não é problema dele

  • 3/07/2024
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A única explicação possível para as sístoles e diástoles do câmbio parece ser de conteúdo político, já que por maior que seja a fieira de justificativas para o pulo do dólar, fica difícil entender uma volatilidade dessas com reservas cambiais de US$ 370 bilhões.  A alta acumulada de 17% no ano – 5,5% apenas no último mês – já foi atribuída a uma miríade de razões, ao gosto do freguês: leniência fiscal, a incontinência verbal de Lula, acidentalidades, leia-se a tragédia do Rio Grande do Sul e seu impacto sobre o preço dos alimentos, ou mesmo fatores exógenos, tais como guerras, os juros do FED, preços das commodities,  mais precisamente a subida da moeda americana no mundo.

Hoje, é a vez do dólar cair mais de 2% e chegar a R$ 5,55 supostamente por causa de uma reunião fora da agenda entre Lula e Fernando Haddad no Palácio Alvorada – talvez fosse o caso do presidente da República e do seu ministro da Fazenda se encontrarem mais vezes de surpresa…

Quanto maiores a arritmia e a profusão de justificativas que não conseguem justificar nada, mais fortalecido fica o discurso de que tudo não passa de uma jogatina de espertalhões.

Nesse caso, falta comunicação para esclarecer que o câmbio não é um cassino. Nesse vai e vem frenético, o que também não tem explicação é a inércia do Banco Central. Hoje o dólar abriu a R$ 5,67. A perspectiva é que com o aumento das eleições municipais a temperatura aumente. Há quem diga que se a autoridade monetária vender swaps, dependendo de onde as cotações forem parar, vai gerar um baita de uma perda de patrimônio público (leia-se reservas em moeda forte).  

O lastro cambial poderia até cair um pouco, mas teria que ser necessário a perda de um Fort Knox para o Brasil queimar, com todo exagero do mundo,  até 1/3 das suas reservas. 

O BC tornou-se um síndico ausente e relapso do mercado de câmbio. A sua decisão de não intervir por meio de leilões de swap, deixa os agentes financeiros com uma pulga atrás da orelha. Será que, a exemplo do passado, o BC de repente vai inundar o mercado de swaps, deixando os investidores sem rumo? Por uma corrente de transmissão inevitável, essa disparada do dólar vai se refletir sobre a inflação, o que consequentemente forçará a autoridade monetária a retomar o ciclo de alta dos juros.

A atual direção do BC tem um estranho fetiche por cenários de risco. O último leilão de swaps realizado pela instituição foi há três meses, mais precisamente em 2 de abril, quando foram vendidos 20 mil contratos em uma oferta total de US$ 1 bilhão. Por que cargas d´água, o BC resolveu frear o dólar quando a cotação bateu em R$ 5,06 (início de abril) e cruza os braços quando rompe a barreira dos R$ 5,70? Parece até que o câmbio virou uma espécie de doença autoimune. Se Lula continuar falando sobre juros e câmbio, o que não é improvável, é capaz de o dólar ir à R$ 6,00 antes do início do ano. E o BC, o que fará? A autoridade monetária parece aprisionada na letra de Chico Buarque de Holanda. “O que não tem remédio. Nem nunca terá. O que não tem explicação. Nem nunca terá…”

#Banco Central #Fernando Haddad #Lula

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