O professor Luiz Gonzaga Belluzzo, talvez o economista com maior influência no governo, diz a seus interlocutores não compreender por que a Fazenda, o Planejamento e o Banco Central não usam o conceito de meta contínua da inflação em seus comunicados – algo para o qual o RR também chamou a atenção semanas atrás.
Belluzzo teria comentado que Fernando Haddad fez o mais difícil: convenceu “todo mundo”, a começar pelo próprio Lula, que a medida seria a melhor do que mudar a meta de inflação. Aliás, a alteração da meta vinha sendo pedida pelo próprio implementador do regime de metas, o economista Sérgio Werlang, ex-diretor do BC e um dos mais respeitados acadêmicos do país.
Com o passar do tempo, Werlang achou que já não era mais o caso de mexer na meta, pois, com o governo Lula 3 já rodando no final do seu primeiro ano, a troca causaria uma descrença do mercado em relação à política monetária. As instituições financeiras nesse tempo passaram a tocar o terrorismo, ao aventar que Lula forçaria o BC a jogar o target para cima.
Só que o ocorrido foi o contrário. Ao adotar a meta contínua, os atuais 3% serão mantidos pelo prazo de 36 meses, a contar de 2025. O BC somente descumprirá a meta caso a inflação fique fora da margem superior durante seis meses. Se isso acontecer, segue tudo como está: o presidente do Banco Central terá de apresentar uma carta de justificativa ao Congresso Nacional.
De qualquer forma, a iniciativa dará maior flexibilidade à política monetária, permitindo que o BC ganhe tempo para a decisão sobre o nível adequado da taxa de juros. A folga para arrumar a casa será maior. Agora mesmo, a julgar pelas declarações que emanam do mercado, o BC deverá aumentar a taxa Selic em 0,25 pp. – ou quem sabe em 50 pp.
Talvez, se o sistema de meta contínua já estivesse sendo utilizado, a medida não tivesse de ser tomada ou mesmo cogitada no calor da hora. Mas é pertinente a inquietação do professor Belluzzo com a falta de comunicação da equipe econômica em relação à desvinculação do ano calendário.
Afinal, para que o Conselho Monetário Nacional aprovou a medida, publicada em edição extraordinária do Diário Oficial da União? Para dar uma falsa sensação de urgência? Para enganar o mercado? Bobagem. O enigma que interessa é por que diacho as autoridades mantêm o silêncio em relação ao tema?