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Economia
É peculiar a forma como Lula trata das questões econômicas. Ele se antecipa a fritura pelo mercado dos seus ministros, Fernando Haddad, principalmente, e Simone Tebet. O presidente traz para si o anúncio das medidas que incomodam as instituições da Faria Lima. Elas por sua vez seguem batendo um bumbo monocórdio, dizendo que não “gostaram da fala de Lula”. O câmbio, as ações e o mercado futuro de juros então fazem uma pequena má-criação. Sobem o dólar e os juros futuros e cai a bolsa, para no dia seguinte fazerem o movimento inverso.
A demonstração mais recente dessa forma de operar do presidente foi sua declaração de que vai desonerar o Imposto de Renda dos mais pobres e tributar os dividendos, uma renda basicamente auferida pelos mais ricos. A proposta é matusalênica. Já foi defendida no governo Lula 1, depois na gestão Michel Temer e seria implementada por Paulo Guedes caso Jair Bolsonaro fosse reeleito. A diferença é que, nas gestões anteriores, os ministros da Fazenda assumiam a responsabilidade pelo anúncio da “má nova”. Mesmo Lula, em seus governos 1 e 2, deixava o abacaxi ser descascado pelo seu então ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Agora, ele traz para si a iniciativa de antecipar as medidas que incomodam o mercado, desinflando o incômodo, lá na frente, dos bancos e demais instituições financeiras. Quando a medida finalmente é aprovada, já não há motivo para volatilidade dos ativos, nem bronca do mercado. Estão todos meio anestesiados, pois as mudanças já se tornaram mornas. Tudo indica que foi e será assim com a tributação de dividendos. E outras medidas seguirão na mesma toada.
A forma de Lula se intrometer não é inédita, mas incomum. Nos governos posteriores à abertura, nem Sarney, Collor, Itamar, FHC ou o Lula dos primeiros mandatos, adotaram essa prática do “me dá que o filho é meu”. Dilma chegou a usar dessa psicologia, que, como toda a comunicação feita pela presidenta, foi desastrosa. Na verdade, na mão inversa, os melhores exemplos de ministros da área econômica que usaram “suas carapaças de rinoceronte” – apud Otto von Bismarck, o “chanceler de ferro” da Alemanha – para proteger a imagem dos presidentes em relação às suas medidas mais duras estão presentes no regime militar. Roberto Campos, Octávio Gouvea de Bulhões e Delfim Neto emprestaram suas costas para levarem as chicotadas no lugar dos mandatários. Paulo Guedes, verdade seja dita, também cumpriu um pouco desse papel. Lula está fazendo o inverso, enchendo o balão no presente para que as expectativas se esfriem e o balão já esteja esvaziado quando for lançado nos ares. O problema primeiramente estoura na mão dele, que promove os seus já tradicionais meneios, avanços e recuos. É uma estratégia que poupa os ministros da Fazenda e concentra a antecipação das iniciativas na figura do presidente. Se vai der certo depende de milhares de variáveis. A ver.
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