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Em um ambiente de desequilíbrio político-institucional, a autonomia preconizada para o Banco Central e o próprio regime de “expectativas racionais” – principal sustentação do inflation target – ficam parecendo a quadratura do círculo. Ao que consta, o BC “bravateiro” e dogmático funciona bem em situações de ditadura e ciclos de boom das commodities. Recomenda a sabedoria que a comunicação da autoridade econômica deve considerar que o racional precisa ser crível. A política monetária que vem sendo praticada pelo BC é o que se poderia chamar de contrafactual. Para maior efeito do discurso, seria necessário compatibilizar a história virtual com os fatos presentes. Não se trata de julgar se a autonomia do guardião da moeda é boa ou má, mas se ela é possível nas condições atuais. Ninguém defende um BC desautorizado pelo ministro da Fazenda ou pelo próprio presidente da República, mas, sim, em harmonia com as linhas gerais das políticas de governo e sintonizado com a realidade psicossocial do país. O Federal Reserve, referência permanente do nosso complexo de vira lata, considera o emprego uma variável a ser buscada pari passu com a queda da inflação. É bem verdade que a estrutura de controle monetário dos norteamericanos é completamente diferente: existem os FEDs regionais, privados e controlados por banqueiros. Mas, no final, embrulhados os secos e molhados, tudo se reflete no nível da taxa de juros. Há vasta literatura sobre o poder de fogo dos juros elevados no combate à carestia. Genocídio, epidemias, recessões brutais e arrocho salarial também reduzem a inflação. Exageros à parte, é sobejamente conhecida na academia a tese de que há momentos em que a teoria monetária é dominada por determinado quadro sistêmico. Um dos mais festejados artigos do papa das expectativas racionais Thomas Sargent, a “Aritmética perversa da política monetária”, teoriza sobre situações extremas, em que a política monetária se torna inócua, quando os juros acabam pressionando ou a base monetária ou o déficit fiscal. Nesse contexto, os relatórios criptografados do Copom ou mesmo o truísmo de que o BC tem sob seu controle a taxa de juros e fará o que for possível para trazer a inflação para a meta padecem de um certo autismo, na medida em que o cenário político-institucional e o ambiente social são os verdadeiros agentes das expectativas racionais. Imaginar que o BC fará o que diz a ferro e fogo, pelo menos neste momento, é semelhante a apostar no poder da Igreja de determinar o credo de toda a sociedade. É plausível que a inflação de 10,6% caia sem pirotecnias com a Selic, devido aos efeitos dolorosos da recessão e à queda do salário real. É desejável que a histeria com o repique inflacionário até certo ponto esperado – alinhamento dos preços administrados, indexação, câmbio, inércia etc – não seja aplacada com tautologias e nem combatida com a borduna da taxa de juros. É apetecível pensar que os juros serão mantidos ou mesmo reduzidos na reunião do Copom da próxima semana. É provável que o BC explique com os contorcionismos técnicos de praxe a mudança de rota. Já estaria de bom tamanho.
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