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Embraer ou “USAer”? Eis a questão. Frederico Curado, sucessor da nobre linhagem de Ozires Silva e Mauricio Botelho, está fadado a entrar para a história como o executivo que “americanizou” um dos grandes símbolos da indústria nacional. O ano de 2016 será um ponto cardeal na nova cartografia geoeconômica da Embraer, com a consolidação da transferência da operação de jatos executivos para o território norte-americano. Até meados do ano que vem, toda a produção dos modelos Phenom 100 e 300 estará concentrada na fábrica de Melbourne, ao norte de Miami, onde, aliás, as aeronaves já são montadas desde 2013. A Embraer também decidiu transferir para a Flórida a fabricação do Legacy, versões 450/500 e 600/650, e do Lineage 1000, seu modelo mais luxuoso de jato executivo. Consultada, a companhia confirmou que a produção dos Phenom 100 e 300 será feita integralmente nos Estados Unidos. No caso do Legacy e do Lineage, a empresa garante que a “montagem final” prosseguirá em São José dos Campos. No entanto, segundo o RR apurou, a montagem final, na verdade, deverá consistir na conclusão de etapas secundárias do processo, sem qualquer valor agregado – o que os engenheiros do setor costumam chamar de “bateção de chapa”. Em aproximadamente um ano, a Embraer terá consolidado um dos grandes processos de exportação de divisas e de postos de trabalho da indústria brasileira. Ao assumir toda a produção de jatos executivos, a subsidiária norte-americana da Embraer será responsável por aproximadamente 28% do faturamento da companhia – a números de 2015, algo próximo de US$ 1,2 bilhão. Este peso, no entanto, tende a aumentar: estimativas apontam que, em até três anos, a carteira de aviação executiva responderá por um terço das vendas totais da empresa. O projeto de internacionalização, ressalte-se, não está circunscrito à divisão de jatos executivos. Aos poucos, começa a se espraiar também pela unidade de defesa e segurança. Em parceria com a norte-americana Sierra Nevada, a Embraer já iniciou também a produção de Super Tucanos nos Estados Unidos. De lá sairão, por exemplo, os seis aviões de ataque encomendados pela Força Aérea do Líbano. A Embraer voa em busca de hedge cambial, com o claro objetivo de concentrar o máximo possível de sua receita em moeda forte. Além disso, os Estados Unidos respondem por mais de 50% da demanda mundial por jatos executivos. A empresa, sabedora dos riscos da “americanização”, pilota sua estratégia de internacionalização com a maior prudência e discrição. Segundo o RR apurou, os próprios executivos da empresa são orientados a falar o mínimo possível sobre o assunto, notadamente junto à mídia. O cuidado é mais do que compreensível: este é um assunto com grande potencial de impacto junto a públicos sensíveis: das Forças Armadas ao BNDES, financiador histórico da empresa, passando, sobretudo, pela própria mão de obra da Embraer. Há um clima de tensão entre a companhia e o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Entre postos de trabalho diretos e indiretos, a divisão de jatos executivos tem cerca de 1,2 mil funcionários. A empresa garante que a equipe dedicada à produção dos Phenom em São José dos Campos será aproveitada na montagem da nova geração de jatos comerciais.
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