Governo

A falta que faz um porta-voz para o presidente Lula

  • 31/10/2024
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O acidente doméstico de Lula escancarou mais uma lacuna na comunicação do seu governo: a ausência de um porta-voz. Assim como de porta-vozes. Seja em caráter oficial ou mesmo informalmente, não há quem fale pelo presidente da República. É como se apenas Lula estivesse autorizado a se pronunciar em nome de Lula… É uma espada de fio duplo. Pode até ser algo de caso pensado, tratando-se de uma figura política sabidamente tão autocentrada. Mas esse vazio obriga o presidente a se expor em demasia, a se manifestar quando deve e quando não deve, vinculando sua imagem a pautas desgastantes. Para não citar o risco permanente de gafes.

O caso médico de Lula é sintomático. Basicamente, a comunicação sobre o seu estado de saúde logo após a queda no banheiro do Palácio do Alvorada se deu por meio de notas divulgadas à imprensa pela Secom e por boletins do Hospital Sírio Libanês. O único pronunciamento de viva voz logo após o acidente foi feito pelo médico particular de Lula, Dr. Roberto Kalil. Ressalte-se que o assunto ainda permanecerá em voga por algum tempo. Estima-se que seja necessário um intervalo de um mês até que a equipe médica possa descartar a formação de hematoma subdural crônico – acúmulo de sangue entre o cérebro e seu revestimento externo, o crânio. Além disso, Lula ainda deverá fazer exames regulares pelo período de três a seis meses para avaliar o risco de surgimento de uma hidrocefalia de pressão normal secundária ao trauma craniano.

A Presidência da República já teve figuras notáveis no posto de porta-voz, como os embaixadores Sergio Amaral e Georges Lamazière, nos governos FHC. Em seu primeiro mandato, o próprio Lula contou com a presença do cientista político André Singer. Foi Singer, por exemplo, quem se pronunciou para repudiar a célebre reportagem do The New York Times, em 2004, fazendo insinuações sobre o “hábito de bebericar” de Lula. Cabia também ao então porta-voz, por exemplo, vir a público para anunciar mudanças ministeriais, das mais corriqueiras à traumática saída de José Dirceu da Casa Civil, em 2005, no rastro das denúncias do “mensalão”. Hoje, não há ninguém que cumpra essa missão. Bem, pode ser pior. Vai que a primeira-dama Janja, que já chamou para si a gestão dos perfis de Lula nas redes sociais, resolva assumir formalmente o cargo de porta-voz da Presidência.

 

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