Acervo RR

O conto de Natal do peculiar “Scrooge da RBS”

  • 3/01/2013
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O Natal de Nelson Sirotsky, dono do Grupo RBS, tem semelhanças sutis com o antológico conto escrito por Charles Dickens, “A Christmas Carol”. Nelson, como se sabe, não é daqueles que reverencia o nascimento de Jesus ou se enternece com a adocicada lenda de Santa Claus. Sua ligação com esse período de concórdia e paz na terra entre os homens de boa vontade se dá puramente por metáfora e livre associação. O conto de Natal de Dickens narra a história do sovina Ebenezer Scrooge, um velho rabugento e solitário, implacável com as pessoas, preocupado apenas com os seus lucros e que detesta o Natal e a felicidade estampada no rosto das pessoas por esta data. São adjetivos exagerados para o controlador da RBS, que, na verdade, nem é sovina, mas o que vale é a essência da história. Não custa lembrar também outra ressalva: Nelson Sirotsky é um Ebenezer Scrooge sem redenção. Nelson mandou o Espírito de Naval a s favas, mesmo suspeitando que ele lhe trazia um recado do patriarca Maurício Sirotsky, com a recomendação de sensibilizar seu coração de pedra. Diria o mensageiro do éter, com a voz sibilante. “Faças um bom negócio, não há porque não fazê-lo, mas não humilhe os teus”. Para o insólito “Scrooge dos Pampas”, porém, tudo que é sólido não se desmancha no ar. E nada seria mais sólido do que levar a  lona um parceiro de velhos tempos. A sovinice de Nelson tem um alvo e ele está no Conselho de Acionistas. O manda-chuva tem um sócio bem diferente do personagem Jacob Marley, um homem cruel e impiedoso. Fernando Ernesto Corrêa, ao contrário da perversidade do conto de Dickens, somente ajudou seus amigos, seus familiares, e a todo o Grupo RBS. Mesmo Eduardo Melzer – preposto de Nelson -, com todo o seu desprezo pela antiga geração de profissionais da RBS, não poderia ter outros adjetivos para Fernando Ernesto senão os de um profissional dedicado e honesto, que penou essa parte final da vida com os mandos e desmandos do então presidente do grupo. Era sobre ele que o espírito de Maurício Sirotsky falava, tentando alterar o destino de sofrimento que, invariavelmente, torna-se o desfecho dos homens maus. Fernando e seu filho Geraldo misturaram suas identidades com a do clã dos Sirotsky. Enquanto o velho Maurício era vivo, foram tratados com gratidão, um sentimento em muito herdado do pai de Fernando, o economista Ernesto Corrêa, figura lendária do jornalismo gaúcho. Mas esses foram outros Natais. Hoje, Geraldo é espezinhado por Duda Melzer, que foi feito presidente da RBS (O RR já contou essa história). Ele se encontra praticamente encostado nas empresas. Fernando Ernesto, por sua vez, foi aprisionado em algemas de ouro. O sempre leal advogado e assessor de assuntos institucionais, que vem tentando vender sua participação de cerca de 8% no capital da empresa, recebeu como contraproposta de Nelson ?Scrooge? Sirotsky uma cesta de pão mofado e um punhado de castanhas azedas. Os valores chegam a ser ofensivos. Maurício Sirotsky, lá do além, deve pensar: “Por que meu filho, não fazes uma proposta mais justa, já que, com essas ações, passarias a ter mais de 20% da RBS? Ajuda gente que te ajudou e ajudas a ti mesmo.” Mas o Espírito da bondade não parece contagiar o “Scrooge dos Pampas”. É ávaro o Natal dos Sirotsky. Pelo menos no que diz respeito a Fernando Ernesto.

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