Acervo RR

Carrefour só sabe que nada sabe sobre o Brasil

  • 18/09/2012
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Se o objetivo era tranquilizar os executivos da empresa, a recente vinda ao Brasil do novo CEO global do Carrefour, Georges Plassat, foi um calmante a s avessas. Sua visita só aumentou o nervosismo entre os dirigentes da subsidiária. O CEO do Carrefour pode até ter dissipado os boatos sobre a venda das operações brasileiras, mas deixou para trás a certeza de que o cinto será apertado até o último furo. Ficou evidente que, na visão dos franceses, a rede não suporta a atual estrutura de custos no país, sobretudo com a modesta rentabilidade no segmento de hipermercados. Tanto que praticamente todas as discussões entre o presidente da subsidiária, Luiz Fazzio, e o novo board têm girado em torno de um único tema: readequação das despesas, o que não passaria de um mero eufemismo para venda de ativos e redução da operação no país. Segundo informações filtradas junto a  própria empresa, a expectativa é que os franceses apresentem até dezembro um plano de enxugamento no Brasil. O número cabalístico para a redução de custos seria de aproximadamente 20%. Na cartilha do Carrefour, uma convicção corresponde a várias dúvidas. O martelo da redução de ativos está prestes a ser batido, mas ninguém sabe ao certo que “mercadoria” irá para a prateleira. Olhando- se para a estrutura de negócios do Carrefour no Brasil, a saída mais simples seria a venda em bloco do Atacadão, uma das hipóteses já cogitadas nas tratativas entre a subsidiária e a matriz. A medida, aliás, teria um simpatizante de peso. De acordo com um executivo ligado ao grupo – ao contrário de seu antecessor, Lars Olofsson -, Georges Plassat não morre de amores pelo modelo de “atacarejo”. O formato exige uma estrutura logística razoavelmente complexa e custos mais altos para adaptação das lojas ao sistema híbrido. Já haveria até um candidato a  compra do Atacadão sentado na primeira fila. A Cencosud, que recentemente adquiriu a mineira Bretas e o carioca Prezunic, já teria sinalizado aos franceses seu interesse no negócio. O grupo chileno não tem um braço de “atacarejo” no Brasil, o que lhe estimularia a pagar um caprichado prêmio de controle. A questão, no entanto, não é tão simples. Os franceses vivem outro dilema. O Atacadão responde por mais da metade do faturamento do Carrefour no país. Em alguns meses, entra com mais de 70% do lucro total do grupo no mercado brasileiro. Por mais que Plassat seja um tradicionalista e defensor do modelo hipermercadista puro-sangue, vai ser difícil explicar aos acionistas da companhia a venda de metade das operações brasileiras. Segundo o RR apurou, Luiz Fazzio defende uma proposta diametralmente oposta. Tratase do fechamento ou venda em bloco dos hipermercados pouco rentáveis. Como se diz no comércio, os franceses passariam o ponto para outra rede do setor. Esta medida, inclusive, seria combinada com uma decisão que fortaleceria o Atacadão, em detrimento da própria divisão de hipermercados. Lojas pouco lucrativas, mas localizadas em áreas com potencial de crescimento, seriam revertidas para a bandeira de “atacarejo”. Se isso vai ocorrer? Bem, certeza, certeza é produto em falta nas prateleiras da rede no país. Procurado pelo RR, o Carrefour informou que “não comenta assuntos estratégicos”. Põe estratégico nisso.

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