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Quem convence o Casino a cair na arapuca de Abílio?

  • 30/06/2011
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Os dirigentes do Casino não conseguem entender até agora onde está a Lei de Gérson ? aquela que permite levar vantagem em tudo ? na cilada armada por Abílio Diniz para a criação de uma nova empresa franco-brasileira no varejo. Para todos os efeitos, o grupo francês poderia fazer sozinho toda a parafernália societária proposta por Abílio, sem ter que engolir sua presença na operação por séculos, seculorum, amém! Mesmo o ?interesse nacional? poderia ser negociado a partir do ingresso do BNDES, com uma golden share, e da própria luxuosa participação do Banco BTG Pactual, ou ? quem sabe? ? do Bradesco ou do Itaú. Se quiserem mais, ainda caberia uma participação minoritária de uma cédula pignoratícia integrada por supermercados de porte médio que ficaram a ver navios com a sanha do BNDES de se tornar private equity dos empreendimentos de uma nova classe empresarial de verniz privado e raízes estatais. Pavonice e irascibilidade a  parte, nada contra Abílio Diniz. Mas o fato é que todas as negociações pelas costas do sócio, o oportunismo de identificar um suposto interesse cívico a s vésperas do exercício da opção e o esforço de convencimento do Casino de que ele estaria fazendo um bom negócio com esta joint venture entre o porco e a galinha (Abílio e parceiros entram com os ovos e o grupo francês com o pernil) não suportam uma defesa ética do encurralamento em prática. Não obstante, o esforço de argumentação é louvável: o Casino será minoritário de um negócio muito maior e o Brasil teria acesso a cadeias de distribuição de seus produtos em uma rede que, além da Europa, alcança a China e a andia. Até mesmo o velho e surrado pretexto do déficit de transações correntes vem sendo utilizado, de forma que a nova empresa evitaria a sangria de divisas de um setor não tradable e com enorme faturamento. Se o Casino vai topar ou não o negócio, isso vai depender muito do cerco do governo brasileiro. O tamanho da manifestação de descontentamento pode ser determinante para a decisão de investir no país. Não fosse isso, ser dono integral do melhor ativo supermercadista do Brasil e aguardar, sentado, que o principal concorrente, o Carrefour, caísse do cacho feito banana madura para lhe fazer uma oferta firme não parece ser mau negócio para ninguém. Existiriam muitas formas, caso fosse o interesse do BNDES, de conduzir essa operação sem favorecimentos explícitos e mirando o interesse dos consumidores, dos fornecedores, da inserção competitiva do país no exterior, além da possibilidade de ingresso e fortalecimento de redes varejistas menos dotadas que foram excluídas desta festa oculta. Pena que o banco tenha se esquecido do potencial purificador da luz do sol.

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