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Lemann é o intruso entre Carrefour e Pão de Açúcar

  • 25/05/2011
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Se furar a bola que está sendo jogada por Carrefour, Abílio Diniz e Casino, já existe um candidato se articulando nos bastidores para a compra dos ativos da rede francesa no Brasil. A fera atende por Jorge Paulo Lemann, que já teria dado mandato a  Goldman Sachs para estudar a operação. Lemann, nesse caso, surge como regra três, porque a preferência, no momento, é da dupla Abílio e Casino. Ainda assim, não faltam bons motivos para que o investidor entre na parada. Existem sinergias indiscutíveis com a rede de varejo do empresário, quer seja a Lojas Americanas, quer seja a operação pontocom (Submarino, Americanas. com e Shoptime). A Americanas seria, inclusive, repaginada para uma adequação a  mega-operação do Carrefour. Na condição de dono de cervejeira, para Lemann também não seria nada mau ter um ponto de venda desta magnitude. Não faltariam possibilidades de acordo com a AmBev, notadamente na área de logística. A pretensão do mais incensado financista do Brasil, no entanto, esbarra nas ambições do mais vaidoso supermercadista do planeta. O principal entusiasta da fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour é Abílio Diniz, que quer experimentar o gostinho de ser monopolista antes de entregar o bastão do grupo aos franceses. Como é sabido, o Casino, que já é acionista majoritário do Pão de Açúcar, terá o controle absoluto do capital em alguns anos, conforme reza o acordo societário existente entre ambos. Abílio parece querer, além da remuneração acertada, uma cadeira no Conselho de Administração do Carrefour. Só ficaria faltando uma medalha da Légion d?Honneur. Existem óbvias vantagens na associação entre as duas maiores redes de supermercados e hipermercados do Brasil A maior delas é a ditadura da escala. Vai ser difícil encontrar outro supermercado para comprar qualquer coisa. As operações de trade também favorecerão imensamente a formação de preços do novo monstro, sobretudo no comércio internacional com a França. A combinação entre a experiência e a união de dois dos maiores compradores do mercado europeu e a fome consumista no varejo nacional permite antever uma capacidade de arbitragem de preço nunca antes vista na história deste país. Do outro lado da balança, pesam as diferenças de cultura (no caso do Carrefour engolir Abílio Diniz) e a superposição de pontos de venda. Ou seja: em um governo que quase foi a  histeria com a demissão de três mil funcionários da Vale, qual seria a reação em assistir a  inexorável degola de milhares e milhares de empregados do Carrefour e do Pão de Açúcar? Há ainda o fator Cade. A fusão entre as duas empresas daria origem a um grupo com receita anual de R$ 66 bilhões, ou um terço das vendas do setor supermercadista no Brasil. Do ponto de vista da concentração de mercado, a compra dos ativos do Carrefour por Jorge Paulo Lemann seria muito mais palatável para os órgãos antitruste. Somando-se o faturamento dos franceses no país com as vendas das Lojas Americanas e da B2W, que reúne as operações de comércio eletrônico de Lemann, a cifra chegaria a R$ 43 bilhões. Outra razão menos explicitada contrária a  fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour é que o domínio hegemônico do capital estrangeiro em um setor no tradable representaria uma sangria crescente de divisas em um dos segmentos da economia com maior potencial de expansão. O setor supermercadista brasileiro se tornaria uma espécie de colônia da França.

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