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Casas Bahia e Carrefour juntos no país das maravilhas

  • 28/04/2010
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Em um mundo virtual, o cenário é o mesmo do prédio de nº 213 na Rua George Eastman, na região do Morumbi. Na sala de decoração austera, executivos discutem planos estratégicos. Na cabeceira da mesa, o senhor esguio, de cabelos levemente grisalhos, abstrai-se do burburinho e começa a divagar. Em seus solitários devaneios, Jean Marc Pueyo, presidente do Carrefour no Brasil, pensa no que seria não apenas a grande tacada de sua gestão, mas também o maior investimento da história do grupo no país: a compra da Casas Bahia. Quimera, loucura, arrojo empresarial? Pouco importa. Tendo a  frente inúmeros recortes de jornal estampando a contenda entre Abílio Diniz e a família Klein e o possível rompimento do acordo entre ambos, Pueyo solta as rédeas dos seus pensamentos e passa a fazer alguns cálculos rápidos. Com a aquisição da Casas Bahia, o Carrefour poderia retomar a liderança do varejo nacional. Saltaria de R$ 25 bilhões para mais de R$ 39 bilhões de faturamento anual, tomando o lugar do Pão de Açúcar, que retrocederia a  casa dos R$ 26 bilhões. O grupo francês avançaria ainda de 250 para quase 800 lojas no país. Nesse universo onírico, Pueyo nem presta atenção ao café que é colocado a sua frente. Continua absorto em sua fantasia. Leva a fina haste de seus óculos a  boca e passa a pensar nas motivações, de parte a parte, para uma associação entre o Carrefour e a Casas Bahia. Do lado dos Klein, mais do que um tapa com luva de pelica, seria um golpe de mestre sobre o mezzo sócio, mezzo desafeto Abílio Diniz. Ao contrário do Pão de Açúcar, que retornaria a  posição pré-fusão, a família Klein permaneceria no topo do varejo nacional, com um bônus: na negociação para a venda da Casas Bahia, poderia se tornar sócia minoritária do próprio Carrefour. Ou seja: passaria a ser acionista de um dos maiores grupos varejistas não apenas da França, mas do mundo, desta vez sem intermediários, como é o Pão de Açúcar em relação ao Casino. Já o Carrefour, além da liderança no Brasil, reforçaria substancialmente sua posição geoeconômica no estratégico mercado latino-americano e dissiparia de uma vez por todas os boatos de venda da sua operação brasileira, uma das mais importantes do grupo fora da Europa. A reunião chega ao fim. Um dos executivos se dirige a Pueyo. Ele mal responde e se levanta subitamente. Ainda não refeito de sua viagem astral, sai imaginando o prêmio que os Klein pediriam para virar de ponta-cabeça a configuração do varejo brasileiro. Fantasia, insanidade ou um lance de gênio na história do Carrefour? Pueyo volta a  sua sala, onde já lhe aguarda uma conference com o board do grupo em Paris: “Bon jour, monsieur de Seze”.

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