Carrefour é trampolim para o grande salto de Abílio Diniz

  • 26/12/2014
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A última coisa que Abílio Diniz quer, aos 77 anos de idade, é voltar a ser dono de supermercado. Ou “apenas” dono de supermercado. A associação com o Carrefour vai muito além de um simples retorno ao varejo, como saudou, em júbilo, a mídia em geral. Abílio não olha para as gôndolas do passado. O que ele tem em mente é um projeto absolutamente inovador, que conjuga o varejo e a montagem de uma vasta rede de fornecedores, notadamente na cadeia de proteínas, tudo em escala global. Trata-se de um negócio superlativo, cujo marco zero foi a compra dos 10% do Carrefour Brasil e dos 2,4% no Carrefour mundial. Quem sabe Abílio não pretende ser uma espécie de Jorge Paulo Lemann do varejo, com múltiplas participações societárias em empresas do setor? Para colocar seus planos em marcha, Abílio Diniz certamente vai lançar mão do melhor – ou pior – estilo Abílio Diniz. O kit Abílio inclui incessante ocupação de espaços, um permanente estado de fricção societária, uma maneira muito peculiar e sinuosa de se portar diante de contratos e acordos e uma ferrenha disposição para triturar oponentes desde o primeiro minuto de convivência. Que o digam o CEO mundial do Carrefour, George Plassat, e o número 1 da filial brasileira, Charles Desmartis. Ambos já receberam o cartão de visitas de Abílio. Desde o primeiro momento, Plassat mostrou- se contrário a  associação com o empresário brasileiro. Não apenas foi voto vencido, como levou um “chega para lá” dos acionistas do grupo, notadamente o fundo Colony e Bernard Arnault, os principais aliados de Abílio. Plassat só foi avisado do acordo três dias antes do anúncio oficial, quando todas as condições já estavam definidas. Não é de estranhar que as fotos divulgadas após o encontro entre o CEO mundial do Carrefour e o empresário, no último dia 18, tenham captado emoções tão antagônicas. No instante do aperto de mãos de praxe, Abílio levava ao rosto um sorriso triunfal e o inseparável ar de soberba. Já Plassat, cenho franzido, parecia engolir a seco um cumprimento que nunca quis dar. A ausência de Charles Desmartis do encontro foi ainda mais sintomática. A poucas horas da reunião, o presidente do Carrefour Brasil acabou excluído da cerimônia de assinatura do contrato. Sequer participou da teleconferência com jornalistas que sucedeu a reunião. Desmartis é desde já candidatíssimo ao posto de “Nildemar Secches” da vez, uma alusão ao competente executivo que reergueu a Perdigão, conduziu a complexa associação com a Sadia e foi alvejado por Abílio Diniz, com o auxílio da Previ e da Tarpon Investimentos.

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