Carrefour vira cenário para um conto de Franz Kafka

  • 20/05/2014
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O CEO mundial do Carrefour, George Plassat, vem sofrendo pesadelos diários com o empresário Abílio Diniz. Plassat acorda de madrugada suando frio com a imagem nítida de que é uma barata, e Abílio o está pisoteando. Não é uma mera alusão ao livro Metamorfose, de Franz Kafka. A revelada ofensiva do ex-dono do Pão de Açúcar para assumir uma posição de destaque no Grupo Carrefour incomoda profundamente o executivo francês. Plassat assistiu, como espectador privilegiado, a todas as manobras e golpes baixos de Abílio no episódio da aquisição do Pão de Açúcar pelo Casino. Já tinha passado antes por uma experiência desagradável com o brasileiro quando, juntamente com o BTG, Abílio tentou uma fusão nada amistosa com o Carrefour. Na época, Plassat soube de muita coisa pelos jornais. Deve a Naouri o favor de o negócio não ter ido para a frente. Mas agora o pesadelo voltou. O presidente do Carrefour tem se visto como uma barata tonta frente aos movimentos tentaculares de Abílio. Em um momento, o empresário vaza a informação de que quer uma cadeira no conselho de administração da rede francesa; em outro, que será o gestor e responsável pelo IPO da operação brasileira. Isso ao mesmo tempo em que, de uma forma sibilina, adquire um lote de ações que o coloca entre os maiores sócios do grupo. George Plassat tem hoje uma senhora estrutura de informações no Brasil somente voltada para rastrear os passos de Monsieur Diniz. O histórico do ingresso e do comportamento do empresário na BRF não deixa dúvidas sobre o estilo de ocupação de Abílio: compra papéis, faz alianças com acionistas, toma a gestão na marra, detona os administradores, cria cizânia e se torna o ditador do negócio. O ex-controlador do Pão do Açúcar tem munição farta para pisar com seu tacão a la vie en rose da gestão de Plassat. Abílio normalmente se apresenta de braços dados com André Esteves e a Tarpon Investimentos, aporta um caminhão de recursos próprios e procura entre os acionistas um Judas Iscariotes, a exemplo da Previ na BRF, capaz de quebrar a espinha dorsal da resistência contra seu despotismo. O medo de se tornar uma barata e ser esmagado não é somente onírico. Plassat sabe que se não reagir estará prestes a se tornar um inseto esbagaçado. A questão é como reagir. Em tempo: o governo da França acabou de baixar um decreto de “patriotismo econômico”, que lhe faculta poder de veto a  venda para investidores estrangeiros de empresas consideradas estratégicas. Não custa lembrar ainda que, no passado, as autoridades francesas barraram a negociação do próprio Carrefour por considerá- lo um símbolo do país.

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