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Mesmo que a implicância com o presidente da República seja a mesma, já existe na Faria Lima quem esteja comemorando a gestão da política econômica de Fernando Haddad até o final do governo Lula. As pitonisas consultadas pelo RR consideram que está cada vez mais provável a mediana do crescimento do PIB até 2026 superar os 3%. Trata-se de um percentual que vem sendo considerado uma fronteira inatingível pela maioria dos analistas de mercado.
Ele estaria pelo menos 1 p.p acima do PIB potencial do Brasil calculado pelas instituições financeiras – entre 1,5% e 2%. O Ministério da Fazenda aumenta a aposta e estima que o PIB potencial é de 2,5%. Entenda-se como PIB potencial o patamar de crescimento da economia que não pressiona a inflação.
O Boletim Focus, em sua última rodada (23 de fevereiro), projeta um PIB de 1,75% para 2024. Parece baixo, mas, tratando-se do conservadorismo dos analistas, é um bom piso para o início do ano. Vale recordar que, em 2023, a previsão para o crescimento do PIB, nesse mesmo período, era de apenas 0,5%. No fim das contas, a economia cresceu 2,9% no ano passado, ou seja, quase seis vezes o índice esperado pelos analistas.
É provável que um erro tão grande do Focus não ocorra neste ano, mas os números do primeiro mês de 2024 foram bastante positivos e interpretados como um indicador de que a economia está andando dentro da pista, com baixa possibilidade de descarrilhar. Até 2026, o Boletim projeta uma mediana do PIB de 2%. Vale o registro de que o Focus estima o mesmo PIB de 2% para 2025 há 11 semanas e para 2026 há 29 semanas.
Arrisca até uma previsão dos mesmos 2% até 2027 – depois, portanto, do atual mandato presidencial – há 31 semanas.
Como foi dito antes, esses 2% podem ser considerados um piso. Com a confirmação desses índices, o resultado primário ficaria dentro da meta sem pirotecnias fiscais, quase que por inércia. A arrecadação deve garantir o cumprimento do arcabouço fiscal.
As projeções que fundamentam o otimismo são a combinação de uma atividade produtiva aquecida – com o aumento da renda e do consumo -, PIB em alta e inflação em baixa, e mais e mais investimentos públicos e privados. Antes que se esqueça, há ainda o fator Haddad, talvez a maior âncora atual da economia e o novo querido da Faria Lima.
A manutenção de um PIB mediano na casa dos 3% reposiciona o Brasil no patamar do crescimento global da economia – as estimativas para a alta do PIB mundial em 2024 vão de 2,4% (Banco Mundial) a 3,1% (FMI). Na última década, o país passou longe do Planeta Terra. Entre 2013 e 2022 (os dados gerais de 2023 ainda não estão consolidados), o PIB global subiu, em média, 2,74% por ano. No mesmo período, a economia brasileira cresceu (se é que o termo pode ser usado) ao ritmo de 0,46% ao ano.
Portanto, em relação à base de comparação, a mediana de 3% ao ano que se anuncia para o governo Lula soa como alvissareira. Mas, quando a referência são as necessidades do país, esse índice ainda é muito baixo. O Brasil precisaria crescer, ao menos, 5% ao ano para fazer frente às demandas em infraestrutura, saúde, educação, segurança etc, algo que hoje ainda não é possível devido às restrições do PIB potencial.
Além disso, não é só uma questão de aumentar o tamanho do bolo, mas também a forma como ele é dividido. O crescimento do PIB terá de vir acompanhado de uma alocação correta dos recursos, mesmo porque se espera uma presença maior do Estado em investimentos estruturantes cruciais.
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