Globo tem musculatura para as piores batalhas

  • 3/05/2022
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Para quem diz que a Globo é uma empresa em decadência financeira e em corner operacional e estratégico, recomenda-se olhar com lupa os seus números, a começar pelo estoque de lucros dos últimos 12 anos – trata-se de um recorte de tempo aleatório. Em pouco mais de uma década, a Globo Comunicação e Participações S.A auferiu ganhos totais da ordem de R$ 22 bilhões, ou seja, média de R$ 1,8 bilhão por ano. O lucro líquido da empresa neste período foi praticamente o dobro de toda a receita líquida do SBT e mais do que o triplo do faturamento da Record no mesmo intervalo.

Na comparação com a Band, o lucro da Globo correspondeu a sete vezes a arrecadação média da concorrente entre 2016 e 2021 – não foram encontrados dados da emissora da família Saad entre 2010 e 2015. Ressalve-se que estes números configuram valores aproximados, obtidos em pesquisa extraoficial e não deflacionados. A Globo é a sexta marca mais valiosa do Brasil. Também é o grupo de mídia que mais investe no país. A corporação formou um caixa de R$ 15 bilhões – valor quase três vezes maior do que a dívida -, e o Ebit- da deve alcançar R$ 559 milhões no primeiro trimestre deste ano.

Esse esforço explicita a solidez e os planos da empresa para realizar vultosos investimentos. A Globo tomou a decisão de fazer caixa não é de hoje. Em 2019, sofreu com o cataclisma no mercado de publicidade, com uma contribuição especial da animosidade ideológica do presidente Jair Bolsonaro, que subtraiu o que foi possível de verbas de anúncios tradicionalmente destinados à Globo. Ainda assim, a emissora realizou um lucro líquido de R$ 752 milhões. Em 2020, a pandemia pegou a empresa de chofre. Com as decorrências negativas no mercado publicitário e contando com a “ajuda” obcecada de um capitão ressentido, o lucro caiu para R$ 167,8 milhões. Esse resultado poderia ser menor, mas a Globo preferiu postergar despesas dentro de um planejamento de investimentos e de expectativa de ampliação de faturamento.

Os números de 2021 vieram dando a sensação de que as Cassandras que odeiam o grupo – e algumas acreditam ter lá suas razões históricas – estavam com a razão: o prejuízo chegou a R$ 173 milhões. Ou seja: a Globo debutou em 12 anos o seu primeiro resultado negativo, performance em grande parte decorrente das despesas postergadas para 2021. A leitura diagonal, vazia de informações, parece confirmar o cenário tristonho. Mas o que está fumegando na estratégia de reestruturação da empresa – além do caixa elevado para realização dos investimentos elevados e a confirmação de que o faturamento subiria de forma a pagar com folga os compromissos passados – é a reformulação da companhia de ponta a ponta, com uma aposta fortíssima no streaming.

Segundo dados oficiais, apenas no mês de fevereiro, a base de assinantes da Globoplay teve um salto de 20% em comparação ao mesmo período no ano passado. Mas nem tudo são rosas. A Copa do Mundo exigirá gastos tremendos e há uma dispersão de publicidade já contratada devido à mudança do cronograma de realização da competição de junho para novembro, no Catar. Mas a Globo, ao contrário dos dois últimos anos, parece nadar de braçada. Já realizou um lucro de R$ 1,3 bilhão no primeiro trimestre.

Toda essa operação – conduzida, sobretudo, por João Roberto Marinho, sem desfazer do papel estratégico de seus irmãos, José Roberto e Roberto Irineu – está sendo tocada com uma prioridade cada vez maior ao conteúdo. Vai ser difícil Bolsonaro seguir tentando dobrar a companhia, assim como Lula influenciá-la com a sua cantilena ideológica. A Globo perdeu audiência, é bem verdade. Mas sua munição é enorme: segundo o Ibope, um em cada três aparelhos televisivos no país fica ligado o tempo inteiro na emissora. É uma farsa a ideia disseminada aos quatro ventos de que a companhia não está preparada para empreitadas de alto calibre, ainda que o poder de fogo de inimigos históricos e de novos concorrentes não possa ser menosprezado.

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