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O governo atirou no que não viu e pode acabar acertando. Há indicações de que o “chefão de Macau”, Lui Che Woo, poderá participar da disputa pela concessão da Loteria Instantânea da Caixa Econômica Federal (Lotex). Trata-se de um peso pesado da jogatina internacional. É o segundo maior dono de cassinos do mundo, e controla corridas de galgo e apostas de cavalo, entre outros jogos de azar. Tem um singelo patrimônio líquido de US$ 21 bilhões.
O governo esperava o interesse dos players mundiais, até porque o Brasil sempre esteve fechado ao capital estrangeiro e há excesso de liquidez internacional para apostas no mercado brasileiro. Mas a expectativa era da vinda de operadores do segundo time, empresários mais focados na área de loteria. Segundo informações do próprio governo, dos 10 maiores principais grupos lotéricos mundiais, pelo menos cinco concorreriam pela concessão da Lotex. O coordenador do road show em Londres e Las Vegas foi o secretário de Acompanhamento Econômico, Mansueto de Almeida. Trata-se de um técnico fiscalista, que, com certeza, enxerga na privatização da Lotex uma avenida para concessões de diversas naturezas na área do jogo de azar.
É dinheiro que vai financiar o déficit público e adubar o investimento. A previsão para o leilão da lotérica é em fevereiro, no mais tardar em março. O governo, contudo, torce para que o Senado Federal aprove, no encerramento do ano, o projeto do senador Ciro Nogueira (PP), que legaliza o jogo do bicho, bingo, vídeo-bingo, apostas esportivas e não esportivas, cassinos on line e complexos de lazer integrados em torno da atividade do jogo. Em novembro, 15 governadores se reuniram em Brasília para aprovar o projeto. Eles agora já somam 19. O que uma história tem a ver com a outra? Elementar, meu caro Watson. Primeiramente, a sinalização da abertura ampla, geral e irrestrita do jogo do Brasil para o mundo aumenta sobremaneira o apetite em relação ao leilão da Lotex nessa primeira fase. Quem chegar primeiro ao mercado brasileiro acabará por ter vantagens em termos de futura integração dos jogos de azar. Segundo, porque a loteria é só um biscoito perto das demais operações, a começar pelos cassinos – ou complexos de lazer – de onde o governo espera uma arrecadação tributária de R$ 20 bilhões ano.
Além de Meirelles, Mansueto e outros paladinos do ajuste fiscal, quem está vibrando com a Las Vegas brasileira é a Caixa Econômica, que vai encontrar uma função nova e um fonte de receita em valores que jamais estiveram no seu radar. O banco participaria da jogatina através da Caixa Participações (CaixaPar) – criada para estimular projetos estruturantes. Assim, como hoje existe a Lotex, não há nada que impeça, futuramente, a existência da “Caixa Cassino”. A CEF, assim como o ministro Moreira Franco, o maestro das privatizações, pensa obsessivamente nessa janela de oportunidade.
Essas intrincadas configurações que, sob certa ótica, levam o país para o primeiro mundo, onde o jogo é legalizado na maior parte das nações, curiosamente acontecerão no Brasil em um ano eleitoral, quando se testará a legislação que proíbe o financiamento de campanha através de doações de empresas privadas. Fica uma pergunta no ar: o que tem a ver Moreira Franco com Sam Giancana, um dos capos das cinco famílias mafiosas que ajudaram a eleger John Kennedy? Simplesmente nada, nadinha. Pura provocação! Moreira é grande artificie das concessões e entusiasta da vinda dos “chefões do jogo” para o Brasil. Não tem aspirações presidenciais, mas de ser eminência parda. Por sua vez, Sheldon Adelson, presidente e CEO da Las Vegas Sands, e Stanley Ho, o “rei de Macau”, são chamados de godfathers dos grandes cassinos mundiais, mas não têm qualquer tipo de associação com a Yakuza, Vozdovac, Surcin, Carteis de Cali e Medelín, Cosa Nostra, Fratellanza Soincevskaja Mafi ya, Sun Yee On, Ndrangheta e outras organizações do gênero. A turma do jogo é tutti buona gente.
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