Um ás que cai no baralho de Carlos Slim

  • 14/10/2013
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Na Claro, a metamorfose é percebida a olhos vistos. O presidente da operadora, Carlos Zenteno, tornou-se uma cópia desfigurada e esmaecida do executivo que assumiu o cargo há três anos. O outrora todopoderoso e empertigado Zenteno – que chegou ao Brasil com a fama de braço-direito de Carlos Slim e, logo na partida, mostrou força ao promover uma drástica reestruturação na empresa – é hoje um dirigente hesitante, trôpego e com os nervos permanentemente a  flor da pele. Seu estado de espírito reflete o avançado desgaste no relacionamento com a alta direção do grupo no México e a deterioração de sua posição na cadeia de comando dos negócios da Telmex no Brasil. Zenteno, que um dia posou como líder do processo de integração das empresas de Slim no país, foi completamente tragado pelo nº 1 da Embratel, José Formoso Martínez, este sim um antigo colaborador do homem mais rico do mundo. O presidente da Claro mantém um grau de interlocução cada vez menor com os dois homens que mandam e desmandam na Telmex – além de Slim, seu genro, Daniel Hajj. A situação chegou ao ponto de os mexicanos discutirem diretamente com Formoso assuntos estratégicos relacionados a  operação de telefonia celular no Brasil, em tese jurisdição de Zenteno. Aos olhos dos mexicanos, Claro e Carlos Zenteno passaram a ser vistos como reflexo um do outro. A operadora é percebida dentro do grupo como uma empresa sem identidade, pálida, tal qual seu principal dirigente. Zenteno até conseguiu dar um choque de gestão na companhia logo que desembarcou no Brasil, mas fracassou em suas duas maiores missões: acelerar o processo de integração operacional e comercial com a Embratel e a Net e recuperar a viceliderança no mercado de telefonia celular. Em alguns momentos, a companhia até chegou a encostar na TIM – menos por mérito próprio e mais pela situação de entropia da operadora italiana. Nos últimos meses, no entanto, a concorrente voltou a abrir vantagem: em agosto, a TIM fechou com 27% de market share, contra 25% da Claro. Em outro front, Carlos Zenteno também não demonstrou força política para evitar ou ao menos atenuar as constantes sanções impostas pela Anatel. É bem verdade que a gestão de Zenteno coincide com um momento de fúria da agência, que tem dado chicotadas a torto e a direito nas empresas do setor. No entanto, os mexicanos esperavam de Zenteno maior capacidade de articulação junto a s autoridades regulatórias. Em um dos episódios mais recentes, a companhia levou uma multa de R$ 21 milhões por irregularidades na arrecadação do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel). Isso para não falar de um episódio bem mais grave, que os mexicanos jamais engoliram: em julho do ano passado, a Anatel suspendeu por vários dias as vendas de planos da Claro em três estados, a começar pelo maior mercado do país: São Paulo. O desempenho financeiro da companhia também pesa sobre os alquebrados ombros de Zenteno. No segundo trimestre deste ano, a Claro teve um aumento de receita de apenas 2,3% na comparação com igual período em 2012. Para efeito de comparação, a Vivo registrou um aumento de 8%; a TIM foi ainda mais longe: 11%. Por essas e por outras, na Claro já se dá como certo que o ciclo de Zenteno está chegando ao fim.

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