Luciano Coutinho não vira a casaca no BNDES

  • 25/04/2013
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Engana-se quem pensa que Luciano Coutinho fez uma autocrítica e jogou a toalha por meio da imprensa. O presidente do BNDES continua achando que a política de escolha dos “cavalos vencedores” teve e tem suas razões estratégicas, ou seja, a inserção internacional dos grupos com capacidade de concorrência no exterior. Coutinho declarou que essa política está enterrada. Os tempos no BNDES são outros. E não deu mais explicações sobre a nova era, nem racionalizou os investimentos caso a caso, explicando motivações das escolhas e razões de eventuais fracassos. Quem conhece o economista, personagem frio, extremamente preparado e com raro controle das circunstâncias, certamente estranhou. Mas Luciano Coutinho não virou a casaca. Seu fundamento cabe em um breviário. Vamos a ele: A orientação para que Coutinho anunciasse a reviravolta da política do banco veio do andar mais alto do governo. O Planalto pretende ir eliminando as iniciativas mais polêmicas, que têm se transformado em munição para oposição. a€ medida que se aproxima o período eleitoral, é hora de afinar o discurso. A escolha de “O Estado de S. Paulo” para a entrevista não foi fortuita. Havia outra opção, O Globo. Ambos atingiriam o target pretendido. A decisão também teve o dedo, aliás a mão, do andar de cima do governo. Os chamados “desenvolvimentistas” do governo nunca se manifestaram a favor de Coutinho. É o chamado “silêncio dos covardes”. A política do BNDES provém do governo Lula. Mas ninguém fala, ninguém diz. Guido Mantega, “ex-bndeista”, e afinado com a orientação do banco, da qual participou em outros idos, fez da omissão um jeito confortável de desconstruir Coutinho. Mantega está seguro no cargo, mas inseguro em relação a  sua reputação. Coutinho já foi alçado pela mídia a ministro da Fazenda muitas vezes, na maior parte em balões de ensaio. Mas, em todas elas, a motivação foi sua competência. O time da chamada “nossa gente” – economistas da Unicamp, UFRJ e afins – ficou calado esse tempo todo. Talvez fosse um último bunker de resistência ao massacre. Mas parece ter se dividido. E fidelidade não anda em alta entre os acadêmicos. Existe uma prateleira de pedidos de financiamento que se encaixam nos critérios da política sepulta. O avanço em novos financiamentos transformaria o BNDES em roupa suja das oposições e da mídia. Melhor estancar, em tempo, do que sangrar em praça pública. A solidão do BNDES se espraia também pela classe empresarial. Não há entidade patronal, grande conglomerado ou mesmo grupo beneficiado que tenha se exposto para fazer um prosaico elogio. Finalmente, os traíras de sempre. Circulou ontem na internet que Roberto Mangabeira Unger revelou seu espanto a diversos membros do governo, devido ao fato de “Luciano Coutinho ainda estar pensando com a cabeça na Coréia de 50 anos atrás.” Logo Mangabeira, que, em uma estranha associação de personagens no governo FHC, foi contratado para criar um título de capitalização popular, que teria como foco principalmente os evangélicos. Participavam da construção do ornitorrinco Eduardo Cunha e Arthur Falk.

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