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Acervo RR
Para Benjamin Steinbruch, vingança é um prato que se serve ainda pelando. Que o digam os Ermírio de Moraes. Ao menos no caso da Votorantim, o Barão do Aço já sabe como dar o troco, mesmo que em cifras mais modestas, pela frustrada tentativa de compra da Usiminas. A vendetta virá sob a forma de cimento. A CSN prepara o bote sobre a Argos, uma das maiores cimenteiras da América Latina, com faturamento anual na casa de US$ 1,5 bilhão. Não é a primeira vez que a empresa colombiana aparece no radar da siderúrgica. Há cerca de dois anos, houve conversas com os controladores da Argos, mas Steinbruch nem chegou a fazer uma oferta pela companhia. Desta vez, no entanto, tudo leva a crer que o empresário irá com toda a sede ao pote. Motivação não lhe falta. A operação é uma alquimia entre o planejamento estratégico da CSN e o fel que corre nas veias de Steinbruch. A aquisição representaria um grande salto para a CSN, que deixaria de ser uma fabricante de cimento tupiniquim, dona de apenas uma planta industrial, em Volta Redonda (RJ), para se tornar um grupo com sólida presença internacional – leiase 11 unidades de produção na Colômbia e nos Estados Unidos. Este movimento se casa a perfeição com a estratégia da CSN para o setor. Embora suas promessas de investimento não sejam exatamente uma carta-fiança, vale lembrar que Steinbruch anunciou um desembolso superior a US$ 2 bilhões com o intuito de montar um cinturão de fábricas na América Latina. Ao mesmo tempo, o empresário teria o prazer, quase sádico, de atravessar o caminho dos Ermírio de Moraes. Recentemente, a própria Votorantim manteve contato com os acionistas da Argos para a compra de uma participação na companhia. Os desafetos de Benjamin Steinbruch certamente dirão que a eventual compra da Argos será uma espécie de vingança de Pirro. A importância da empresa colombiana no xadrez do cimento não chega nem perto do que a aquisição da Usiminas representaria para a CSN no tabuleiro da siderurgia. De fato, pode até não ser o contraataque que Steinbruch idealizou em seus sonhos mais maquiavélicos e rancorosos. Ainda assim, mesmo que em proporção menor, a perda da Argos representará um baque nos planos expansionistas da Votorantim. Do ponto de vista geoeconômico, os Ermírio de Moraes consideram fundamental criar um colar de ativos na área cimenteira em toda a América Latina. Não por acaso, o grupo, dono de 39% da argentina Avellaneda, está tentando comprar o restante das ações – ver RR nº 4.236. Com a incorporação da Argos, Steinbruch tiraria da vitrine uma das fabricantes mais cobiçadas da região, fechando a porta nos dedos de seus desafetos
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