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A Casas Pernambucanas é a pirâmide de Gizé do varejo. Não necessariamente pela solidez de sua edificação, mas pelo fato de ser guardada por uma das mais inexpugnáveis esfinges do empresariado nacional: Anita Louise Regina Harley. Seu poder é proporcional aos mistérios que a cercam, muitos deles alimentados por uma vida de histórica reclusão. No momento, o maior dos enigmas de Anita se entrelaça com o próprio futuro da companhia. Os demais acionistas da rede varejista seriam capazes de dar um braço para decifrar qual será a reação da empresária diante da fulminante decisão do Superior Tribunal de Justiça proferida no fim do ano passado. Anita terá de repassar a cinco sobrinhos o correspondente a 12,5% da Pernambucanas. Trata-se do capítulo mais tenso de um folhetim que já dura 23 anos. Em seu testamento, a matriarca da família, Erenita Helena Groschke Cavalcanti Lundgren, fragmentou o controle da Pernambucanas entre os três filhos: a Anita coube a maior fatia (25%); Robert e Anna Christina Harley (ambos já falecidos) receberam, cada um, 12,5%. “Receberam” é força de expressão. Anita ficou também com o direito de administrar as participações dos irmãos. Na prática, passou a responder por metade da empresa. Desde então, a família entrou em guerra pelo naco de 25%. O recente veredito do STJ beneficiou os cinco filhos de Robert, abrindo caminho para que os herdeiros de Anna Christina também sejam favorecidos. Anita Louise sempre viveu entre brumas. Contam-se nos dedos as vezes em que a empresária compareceu a sede de sua própria companhia nos últimos anos. Nos arquivos de jornais, as fotos mais recentes são do início da década de 1990. Fora os poucos empregados, seu novo endereço em São Paulo – por mais de 30 anos, morou no finado Hotel Ca’d’Oro – é um segredo compartilhado por não mais do que uma dezena de pessoas, entre elas o advogado e porta-voz bissexto, alvaro Azevedo Filho. No entanto, apesar de tanta distância, tudo na Pernambucanas remete a presença de Anita. Por isso, a aflição causada pelo seu silêncio. Passados mais de três meses da decisão do STJ, nem mesmo seus sobrinhos têm pistas de qual será a reação da empresária. O que escapa do lado de lá são apenas sussurros, ensaios e dissimulações que parecem calculadamente desencontradas. Anita teria feito chegar aos filhos de Robert Harley a informação de que vai recorrer da decisão até o fim deste mês. Da mesma forma, teria acenado com a possibilidade de um armistício, leia-se a assinatura de um novo acordo de acionistas, que permitiria aos sobrinhos finalmente ingressar no bloco de controle da Pernambucanas. Para onde vai Anita? Os herdeiros de Robert e Anna Christina temem ser devorados sem sequer chegarem perto de uma resposta para o enigma. Em meio ao litígio societário e a s interrogações que cercam seu futuro, a Pernambucanas vive um momento curioso. Como rede varejista, a empresa está longe dos seus melhores dias. Nos últimos anos, encerrou suas operações no Rio de Janeiro, Ceará e, ironia das ironias, Pernambuco. Desde o início da década, não abre mais do que seis novas lojas por ano, número muito aquém do ostentado por suas maiores concorrentes. Em contrapartida, a empresa tem se notabilizado pelos ganhos de sua financeira: no ano passado, a Pernambucanas Financiadora lucrou R$ 210 milhões, uma rentabilidade 26 vezes superior a alcançada pela operação varejista propriamente dita.
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