O Capitão não veio para explicar, mas para confundir

  • 6/12/2018
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Aliados próximos do presidente eleito Jair Bolsonaro somente conseguem entender suas declarações desencontradas sobre a reforma da Previdência como parte de uma estratégia diversionista, que busca confundir suas reais intenções. Uma derivada do dividir para reinar. O futuro mandatário confunde para negociar. Quando Bolsonaro diz que a reforma é prioritária e será encaminhada imediatamente ao Congresso, que o projeto pode ser o mesmo enviado na gestão Temer; ou que ela será aprovada de forma gradual com um projeto próprio que está sendo preparado por Paulo Guedes; ou que ela será apresentada aos pedaços, uma parte agora outra parte até o final do ano, ele somente desinforma.

Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Bolsonaro parece fazer política usando o método de Francisco José Fonseca de Medeiros em sua apostila sobre a Atividade de Inteligência no Mundo atual: a recomendação é não deixar ninguém entender o que você está pensando; afirmar o que não pensa; e mudar permanentemente o que disse anteriormente. Bolsonaro personifica com distinção a máxima do teórico da espionagem: “Fazer Inteligência não é coisa de inteligentes”. Talvez seja até o contrário. A estratégia cada vez mais nítida do presidente eleito de desorientar primeiro para depois entrar em campo se espraiou para o seu futuro gabinete no governo. Onyx Lorenzoni, convidado para a chefia da Casa Civil, entorta ainda mais o propósito de fazer da Previdência a viga central da estabilização econômica. Segundo Lorenzoni, a reforma pode ser aprovada em qualquer dos quatro anos.

O governo não se estressará com isso. O ministro da Economia, Paulo Guedes, diz o oposto. Os filhos de Bolsonaro também desdenham hoje do projeto que foi tratado na campanha como demonstração de que o presidente tinha entendido a lógica da urgência do ajuste fiscal. O presidente eleito sabe que não há nada que substitua o efeito positivo sobre as expectativas do que a aprovação da reforma da Previdência, o quanto mais rápida e austera possível. Sabe que as agências de rating deverão reagir de forma favorável, o que reduzirá o risco do país, atraindo mais capitais. Tem convicção de que os ativos públicos a serem privatizados aumentarão de valor e poderão ser levados com maior velocidade a leilão. Não tem dúvida da importância da medida para que se zere o déficit primário e se busque a seguir a realização de um superávit. Muito menos do seu papel na redução da taxa básica de juros com um efeito virtuoso sobre toda a economia. Talvez só exista uma explicação para essa algaravia de proposições e ideias: Bolsonaro quer confundir.

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