Upgrade do Brasil depende do “downgrade” do BC

  • 5/01/2016
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 O economista-chefe para a América Latina da Standard & Poor´s, Joaquín Cottani, deu a receita para o upgrade do Brasil, assim como para a instauração da “novíssima matriz econômica”. A proposta de Cottani é um ataque à administração dos juros pelo BC, que teriam de ser cortados à metade. Segundo ele, a política monetária estaria às avessas, com o que concordam José Serra, Delfim Netto, Maria da Conceição Tavares e Joaquim Levy – estes dois últimos fizeram as declarações diretamente ao RR. Onde quer que se olhe, não faltam luminares com vontade de metralhar a condução dos juros e, de tabela, os demais secos e molhados da gestão Alexandre Tombini. Cottani detona também os swaps e as reservas cambiais, que, segundo ele, não precisariam estar no atual volume de US$ 370 bilhões, com promessa de chegar a US$ 400 bilhões neste ano. A rolagem diária do estoque de swaps cambiais corresponde a quase um terço das reservas e mais onera o fiscal do que protege o balanço de pagamentos.  O curioso é que os espetaculares juros do país e seus efeitos nefandos, que protagonizaram a vilania econômica por décadas, assumiram um papel coadjuvante na percepção pública, ofuscados que foram pela anarquia nas contas do Tesouro. É como se o país, anestesiado, tivesse aprendido a conviver com taxas obscenas, sem par no mundo. A aposta do RR é que esse vício termina em 2016. Há uma corrente de técnicos à esquerda e à direita que elegeu os juros siderais como os grandes inimigos nacionais. Com uma taxa básica de 14,25%, é necessária uma política fiscal assassina para não ser sugado pela política monetária na contramão. Se o BC mantiver os juros nos atuais níveis até 2018, será preciso um superávit primário superior a 4% do PIB durante uma década para acomodar a divida pública bruta em um patamar de 50% do PIB, ainda alto para os padrões internacionais. Vale lembrar quem o salto prenunciado para este ano já empurra para 70% a relação dívida bruta/PIB. E o índice de preços, como fica nessa “novíssima matriz econômica”? O guru da S&P, Joaquín Cottani, acha que será necessário conviver com uma meta de inflação um tanto mais alta como condição para reduzir os juros pela metade, debelar a ameaça da dívida pública bruta e arrumar as contas públicas estruturalmente. Contudo, o que dizer da pesquisa Focus que prevê aumento da taxa básica em 2016? A resposta vem do professor Delfim Netto: “O mercado sabe muito menos do que pensa”.  Atenção: a receita para podar a Selic e conviver transitoriamente com um pouquinho mais de carestia, vinda de onde vem, pode ser considerada uma recomendação insider para o retorno do Brasil aos degraus anteriores e – quem sabe? – às notas ainda mais positivas concedidas pela agência. As outras fórmulas, como a suspensão da rolagem dos swaps com a recompra da dívida bruta e a geração de um primário da ordem de 1%, quem leu o RR nas edições de 5 de março, 22 de julho, 28 de julho, 30 de setembro, 2 de outubro e 2 de dezembro já sabia de cor e salteado o que viria pela frente. O blended proposto é uma receita ainda não experimentada para resgatarmos a estabilidade econômica. Só falta Nelson Barbosa colocar na coqueteleira e servir com um discurso de crescimento no longo prazo.

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