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Chineses “caçam” insetos no Brasil para garantir sua segurança alimentar

  • 31/10/2024
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Como se não bastasse a posição de maior exportador global de carne e soja para a China, o papel do Brasil como supridor de proteínas do país asiático começa a se estender a cardápios menos convencionais. Investidores chineses estão buscando negócios no Brasil relacionados à produção e à exportação de insetos para alimentação. O RR crava que o player mais ativo é a Yihua Capital. O fundo está abordando potenciais parceiros no país, de gestoras de venture capital a startups do setor. Tem, inclusive, se aproveitado de encontros bilaterais na área empresarial para estreitar contatos e firmar acordos. A Yihua Capital coloca sobre a mesa não apenas a perspectiva de aporte de capital, mas também a garantia de contratos de longo prazo para exportação de insetos e consequentemente mercado cativo na China, o maior consumidor mundial de nutrientes, seja de que origem for.
O que está em jogo é a segurança alimentar de 1,4 bilhão de habitantes. O Brasil ainda engatinha no segmento – sequer há uma legislação específica para criação e uso de insetos na alimentação humana. No entanto, reúne uma série de condições favoráveis à produção de coleópteros, himenópteros, ortópteros, lepidópteros e tantas outras ordens comestíveis em larga escala. Tem área de sobra para criações em cativeiro, uma vasta fauna de espécies autóctones e um dos grandes centros de excelência na área de biotecnologia, a Embrapa.
Some-se a isso o surgimento de um número cada vez maior de startups no setor, algumas já no mapa de investidores internacionais. É o caso da Cyns, de Piracicaba (SP), pioneira na produção de farinha de insetos. A empresa, que tem como meta atingir capacidade de mil toneladas de farináceo à base de moscas soldado negro por ano, já recebeu recursos da japonesa Sumitomo Corporation e da Lambarin Investimentos. Por sinal, Piracicaba está se revelando um polo da “gastronomia” entômica.
É de lá também a Hakkuna, focada em suplementos proteicos a partir de farinha de grilos. Ressalte-se que nenhuma das duas startups é uma aventureira que nasceu da noite para o dia. Ambas surgiram a partir de bem-sucedidos projetos de criação de insetos que já levam mais de uma década. Sediado na cidade de Shantou, na província de Guangdong, o Yihua Capital se notabiliza por participações em empresas de tecnologia, a exemplo da fabricante de chips MRG Semiconductors Technology.
O venture capital se junta a outros fundos chineses que já investem em soluções alimentares à base de insetos, como Shanghai Urban Construction Investment Corporation, Dao Foods, Lever China Fund, Bits x Bites, entre outros. O governo da China mantém uma série de políticas para estimular projetos no setor, por intermédio de subsídios, parcerias acadêmicas, financiamento direto de startups e atualização regulatória. Por meio da própria Shangai Urban, por exemplo, o governo de Xangai montou uma fazenda de insetos que converte resíduos orgânicos em proteína de larvas para a produção de alimentos e fertilizantes.
Como diz o renomado ambientalista norte-americano Lester Brown, fundador do Earth Policy Institute, “o crescimento da demanda chinesa por alimentos é um dos maiores desafios ambientais do nosso tempo.” O mercado global de insetos comestíveis é estimado em cerca de US$ 3,2 bilhões. Há projeções que essa cifra deve chegar a US$ 17,6 bilhões até 2032. Esse crescimento é impulsionado, sobretudo, pela Ásia, que representa aproximadamente 43% do consumo. Nessa toada, logo, logo baratas, grilos, larvas, tanajuras farão parte da balança comercial entre o Brasil e a China. Demanda é o que não falta.

#China #Yihua Capital

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