Cemig encontra uma cerca eletrificada na entrada de São Paulo

  • 26/09/2013
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Um dos mais aguardados negócios do setor elétrico está colocando do mesmo lado petistas e tucanos – e, de quebra, criando um racha entre duas lideranças do próprio PSDB. A operação em questão é a venda simultânea da distribuidora Eletropaulo e da geradora Tietê, ambas controladas pela AES e pelo BNDES, sócios na holding Brasiliana. Depois de tantas idas e vindas, os norte-americanos fecharam um acordo com o banco para a negociação das duas empresas. Já teriam, inclusive, contratado como adviser um banco de investimentos conterrâneo. A operação junta a fome dos norteamericanos em reduzir consideravelmente sua posição no mercado brasileiro com a antiga vontade do governo de colocar dois dos mais importantes ativos do setor no colo de um grande grupo nacional. No entanto, as primeiras articulações feitas pela AES desencadearam um curto-circuito político. O grupo vem mantendo conversações com a Cemig, interessada na aquisição tanto da Eletropaulo quanto da Tietê. Com este movimento, os norte-americanos conseguiram a façanha de unir os Montecchio e os Capuleto da política nacional. O próprio Palácio do Planalto, que acompanha as negociações, torce o nariz para a ideia de as duas empresas caírem nas mãos da Cemig. Quando o assunto é o fortalecimento de empresas nacionais, o governo tem suas preferências no setor, que passam longe das alterosas e de uma estatal sob jugo tucano. Reforçar a Cemig significa energizar um latifúndio político do PSDB e, sobretudo, Aécio Neves, uma espécie de cardeal vitalício na companhia. Curiosamente, o Planalto não está sozinho. No Palácio dos Bandeirantes, a repulsa é a mesma. Não obstante o sangue tucano em comum, Geraldo Alckmin está disposto a erguer uma barricada para fechar suas fronteiras elétricas e impedir que o governo mineiro dê as cartas no setor em São Paulo. Com a dupla aquisição, a Cemig teria um enclave de quase cinco mil quilômetros quadrados em território paulista e abduziria cerca de 16 milhões de clientes, o universo atendido pela Eletropaulo. Assumiria ainda o comando de um parque gerador formado por nove hidrelétricas, com capacidade para fornecer metade da energia consumida pela cidade de São Paulo em um ano. O RR pinta o quadro com cores fortes, e até talvez com algum exagero. Mas tudo indica que a Cemig está com os dois dedos na tomada. Se Geraldo Alckmin promete gastar munição política para evitar a venda da Eletropaulo e da Tietê a  estatal mineira, o governo federal detém armas de calibre ainda mais grosso para pressionar a AES a buscar outro candidato a  compra das duas empresas. Neste caso, mira diretamente no bolso dos envolvidos no negócio. O BNDES já teria se comprometido a financiar a venda da distribuidora e da geradora. Mas provavelmente a moleza não se aplica a  Cemig.

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