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Já murcharam a festa, pá, da EDP Energias do Brasil. Na empresa, não há qualquer cheirinho de alecrim. Quem dera que a venda do grupo para a China Three Gorges, sacramentada no fim de 2011, representasse uma descarga de investimentos no mercado brasileiro. Mas, até agora, o odor predominante é de um incenso enjoativo. O atual cenário combina escassez de novos projetos, queda da rentabilidade, passivo crescente e uma farta dose de desinteresse dos asiáticos em relação ao Brasil. Neste cardápio, é difícil escolher o prato mais indigesto. Nos últimos 12 meses, a dívida líquida subiu aproximadamente 35%. O passivo de longo prazo da EDP, em torno de R$ 5 bilhões, cresceu 15% no ano passado e, pela primeira vez, ultrapassou o patrimônio líquido – R$ 4,4 bilhões. Se fosse só a dívida, empurrava-se com a barriga, como diz o ex-ministro Delfim Netto. Mas, em razão do impacto causado pela nova política tarifária do setor, a EDP prevê uma queda de lucro de até 20% em 2013. Isso, ressalte- se, em cima de uma base de cálculo já depreciada. No ano passado, o resultado da companhia recuou 30%. Problemas existem para serem resolvidos. Mas, oráculos do Oriente revelam que as adversidades não são rosas, sobretudo pela inapetência da China Three Gorges em relação ao Brasil. A princípio, chega a causar perplexidade a ideia de que o grupo esteja preterindo o maior negócio da EDP fora da Europa. No entanto, a lógica mandarim é esfumaçada como o hálito do dragão. No momento, a prioridade da Three Gorges é equacionar os sérios problemas da EDP na Europa. Além disso, os asiáticos enxergam o Brasil com um olhar atravessado. Logo em seu primeiro ano no controle da EDP, a Three Gorges foi abalroada pelo novo marco regulatório e pela redução das tarifas de energia. O descrédito em relação ao Brasil se reflete no plano estratégico da Three Gorges. Em 2012, os chineses mantiveram os principais investimentos da EDP que já estavam em curso, notadamente na área de geração. Mas não é preciso muita clarividência para enxergar que não passaram de cinzas sopradas pelas monções. Os aportes em distribuição já caíram 11% no ano passado, um índice ainda conservador se comparado a s perspectivas para 2013 e 2014. Na subsidiária, já se dá como certo que a maior parte dos projetos remanescentes da velha EDP será engavetada. A EDP parece empenhada em confirmar o aforismo de que, em casa onde não há pão, ninguém tem razão. Em meio ao período de resultados ruins, há também vários fios desencapados na gestão. São cada vez mais intensos os choques entre os integrantes do alto-comando, notadamente a presidente da subsidiária, Ana Maria Fernandes, e o vice-presidente de distribuição, Miguel Nuno Setas. A situação chegou a tal ponto que Ana Maria, inclusive, teria solicitado ao board o retorno de Setas a Portugal. Por enquanto, a EDP vai sendo tratada a golpes de espada tai chi. Foi-se o tempo em que era considerada uma joia de âmbar. Procurada, a empresa limitou- se a esclarecer as razões para o aumento do passivo, como a obtenção um financiamento de R$ 300 milhões do BNDES e a amortização de debêntures da EDP Escelsa e de dívidas de longo prazo. No entanto, não se pronunciou sobre o plano de investimentos, a estratégia da Three Gorges para o Brasil e o relacionamento entre seus executivos.
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