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E o tempo levou Bacha, versão II

  • 6/05/2013
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O “Plano Real II” de Edmar Bacha promete oito anos de servidão para a turma do andar de baixo, justamente aquela que teve os maiores ganhos com a política hoje apedrejada. O velho economista recoloca no centro da galáxia a dívida pública bruta, que cairia para o patamar de 40% do PIB, mais ou menos o mesmo lugar que ocupa hoje a dívida pública líquida. A medida teria impacto no aumento do investimento externo, que jogaria o câmbio para R$ 2,40. Na sua visão, o dólar apreciado daria um choque de produtividade na indústria. A síntese da proposta é um corte boçal nas despesas públicas, combinado com ampliação das desonerações na indústria, redução das tarifas de importação e novos acordos comerciais bilaterais e multilaterais. E o papel do gasto público na demanda agregada? Isto é só um detalhe para o economista de cabelos de algodão e índole de carcaju. A queda da inflação, na visão de Bacha, viria da porretada nas costas do assalariado, nos primeiros quatro anos, e na reversão das expectativas devido ao aperto fiscal. A carestia desceria algum degrau, não obstante a pressão do câmbio. Bacha não aponta nenhuma mudança do microeconômico como variável de ajuste. O seu “Plano da Real Senectude” copia o que já era velho. Os investimentos na indústria reduziriam o crescimento do desemprego decorrente da pancada no Estado e permitiriam a criação de um novo ciclo de emprego – na sua visão, esse, sim, virtuoso. Bacha já foi um dos maiores economistas da sua geração. O Plano Real, do qual foi um dos artífices, é um monumento de engenhosidade racional. Mas parece que o passar dos tempos o fez perder a paciência com o jogo político, com a democracia, com a centralidade do povo como interesse maior. O velho Bacha parece ignorar o namoro de Aécio Neves com o tema da desindexação. Ou mesmo as preocupações lançadas ao léu por Eduardo Campos de criar portas de saída para as políticas sociais, gerando o emprego. Talvez a melhor forma de ilustrar a pressa de Bacha seja relembrar sua recente brincadeira na imprensa com a lei da oferta e da procura. Ele interpretou-a por meio dos desenhos do Kama Sutra. Nos tempos do jovem Bacha, em vez de teorizar sobre acrobacias sexuais, ele teria recorrido, por exemplo, a  teoria do “ponto fixo”, de Brouwer e John Nash. Ele tinha mais tempo para isso.

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