Acervo RR

Sinopec vê uma porta escancarada na Petrobras

  • 21/03/2013
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A chinesa Sinopec quer ser a PDVSA que deu certo no Brasil. Pretende aproveitar a má fase da Petrobras para extrair vantagens nos negócios de refino, notadamente, além de outras operações diretamente ligadas a  indústria de petróleo e gás. Chama a atenção, contudo, o apetite pelo refino, cuja parceria com os venezuelanos – uma espécie de Transnordestina do beneficiamento de petróleo – é de triste lembrança. É sabido no mundo inteiro que o refino de óleo tornou-se o mico preto e viscoso para os investidores. Trata-se de um abacaxi de capital intensivo, com exigência de logística apurada e taxa de rentabilidade cada vez mais baixa. Fosse o contrário, o enigma seria o motivo pelo qual a Petrobras não constrói mais uma dúzia. Aliás, em todos os projetos em que a estatal se meteu, com ênfase ao traumático Comperj, o resultado foi o atraso de anos e anos e a octuplicação dos custos de construção. Portanto, que se saiba que as refinarias são tão estratégicas para o país quanto o furo que produzem no bolso dos seus investidores. As negociações entre a Sinopec e a Petrobras caminham no ritmo lento, cadenciado, porém seguro que costuma pautar os movimentos dos chineses pelo mundo dos negócios. As tratativas se desenrolam há mais de um ano. Analistas mais maquiavélicos consideram até que a morosidade tem uma segunda intenção: tornar a Petrobras ainda mais receptiva a  ofensiva dos mandarins do petróleo. Os chineses entendem que o refino pode ser um pré-saleirinho, dado o potencial da operação. Sobretudo porque a Sinopec vislumbra a oportunidade de sangrar a Petrobras em tudo de melhor que a parceria pode vir a oferecer: vantagens fiscais, melhores taxas de retorno, opção de participações societárias maiores ao longo do tempo e, sobretudo, acesso privilegiado ao BNDES, espécie de quintal financeiro da estatal. Procuradas, Petrobras e Sinopec não quiseram se pronunciar. O resultado de uma possível associação entre Petrobras e Sinopec ainda é um animal a ser decifrado, até porque o acordo abriria a possibilidade de um sem-número de outras parcerias. Do ponto de vista geoeconômico, a operação juntaria um dos maiores potenciais de suprimento de óleo com um dos maiores mercados consumidores do mundo, formando uma espécie de “Petric”. E onde, afinal, a empresa chinesa estaria disposta a aportar seus recursos? A Sinopec já teria demonstrado interesse em se associar a s futuras refinarias da estatal – Abreu Lima, em Pernambuco, Premium I, no Ceará, e Premium II, no Maranhão. Segundo os dizeres da própria Maria das Graças Foster, o mês de julho é a chave para essas definições. A Sinopec enxerga este movimento como peça-chave para a verticalização de seus negócios no Brasil. Os chineses – que já investiram mais de US$ 9 bilhões em exploração e produção no país, sendo US$ 7 bilhões na compra dos ativos da Repsol – querem ter uma operação própria de refino para beneficiar o petróleo extraído de seus blocos. Eles sabem muito bem que a Petrobras é uma porta sem tranca e vive um período de fragilidade financeira. A estatal pretende abrir suas refinarias para sócios privados – conforme informou o RR na edição nº 4.556. Esta operação seria fundamental para a companhia reduzir seus aportes em refino e, desta forma, realocar os recursos em outros projetos previstos em seu plano estratégico. A construção de Abreu Lima e das unidades Premium I e II está orçada em quase US$ 50 bilhões.

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