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Acervo RR
A contenda entre a Eletrobras e a Impsa extrapolou as fronteiras corporativas. O imbróglio tornou-se um assunto de Estado, com sério risco de desdobramentos nas relações diplomáticas e comerciais entre Brasil e Argentina. O agravamento do episódio se deve a entrada em cena de Cristina Kirchner, que, só para não perder o hábito, vislumbrou a oportunidade de instrumentalizar politicamente o episódio, mais uma vez evocando a “defesa dos interesses da indústria argentina”. A Sra. K, acostumada a usar navalha no salto, comprou o barulho de seus patrícios, que cobram da estatal brasileira uma dívida de R$ 250 milhões referente a venda de energia eólica. Nas duas últimas semanas, a Casa Rosada fez chegar ao governo brasileiro uma série de ameaças, todas na esfera do comércio bilateral, com o objetivo de pressionar a estatal a quitar o suposto passivo. Os argentinos prometem rever a extinção das chamadas licenças automáticas de importação. A decisão, anunciada no início deste ano, favoreceu a entrada de produtos estrangeiros no país. O governo de Cristina Kirchner sinaliza também com a hipótese de aumento das alíquotas para a importação de veículos e autopeças e produtos têxteis. Diante da reação portenha, uma pergunta não quer calar: afinal, onde terminam os interesses corporativos da Impsa e começam as decisões de Estado do governo argentino? Em se tratando de Cristina Kirchner, esta linha divisória é turva, quase inexistente, permitindo que alhos e bugalhos se misturem. O bugalho, neste caso, atende pelo nome de Enrique Pescarmona, controlador da Impsa. Pescarmona faz parte da seleta confraria de empresários que sempre privou da amizade do casal K. Entre outros benefícios, o estreito relacionamento lhe permitiu estabelecer uma série de negócios na Venezuela, na esteira da proximidade entre Cristina Kirchner e Hugo Chávez. Ressalte-se que o imbróglio não se restringe ao pagamento da dívida de R$ 250 milhões. As autoridades argentinas fazem pressão também pelo cumprimento de um segundo contrato que supostamente teria sido acordado entre a Petrobras e a Impsa, também envolvendo a compra de energia eólica nas usinas de Bom Jardim e agua Doce, em Santa Catarina. Confirmada a encomenda adicional, o valor pendente ultrapassaria os R$ 600 milhões. A Eletrobras já negou publicamente qualquer dívida. Alega que há inconsistências na documentação das duas usinas eólicas pertencentes a Impsa, o que, inclusive, impossibilitaria seu enquadramento no Proinfa. Procurada, a Impsa confirmou não ter recebido até o momento o valor cobrado da Eletrobras. A estatal, por sua vez, declarou que “não se posiciona a respeito de questões diplomáticas”.
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