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Acervo RR
O Grupo Graal, heresia cometida pela família Gradin, tem teor alcoólico suficiente para embebedar o BNDES, independentemente das suas intenções. Bernardo e Miguel Gradin decidiram que uma empresa homônima do cálice sagrado – com o qual Jesus Cristo teria celebrado a última ceia – pode tudo. Pode até transformar uma companhia de papel em um dos cavalos vencedores do maior banco de fomento do mundo. Não é nada, não é nada, o controverso Bernardo e o seu ofuscado irmão Miguel conseguiram envolver o BNDES na aquisição de 15% da empresa ainda pré-operacional, ao custo de R$ 600 milhões. Essa foi apenas a primeira tranche “papai com mamãe”. O segundo passo é um volume de financiamentos que poderão chegar a R$ 1 bilhão. Por enquanto, segundo informações obtidas junto ao banco, a GraalBio ainda não aportou ativos no projeto. Entre os milagres da Graal está o de fisgar o BNDES para investir em um setor que vem se arrastando. Nos últimos três anos, mais de 40 usinas entraram em recuperação judicial ou decretaram falência. Nas safras de 2011 e 2012, quase 50 empresas chegaram a paralisar a moagem de cana. Segundo relatório do Itaú BBA, somente entre as companhias instaladas no Centro-Sul do país, a dívida do setor sucroalcooleiro chegou aos R$ 48 bilhões na última safra. A justificativa do controverso Bernardo é a atração de tecnologia para a produção de etanol. Na linha da verticalização, o grupo produziria também biocombustíveis e bioquímicos de segunda geração. Outro mistério repousa no fundo do cálice da Graal. São raríssimos os projetos congêneres no mundo que já tenham sido testados com sucesso, tanto do ponto de vista da escala quanto financeiro. Por outro lado, é muito nobre a decisão do banco em aportar recursos para a importação e o desenvolvimento de tecnologias mais avançadas na área de bioenergia, apelidada pelos seus tecnocratas de “química verde”. A questão é o montante e as dúvidas em relação ao resultado da operação. Mas parece que a gestão de Luciano Coutinho gosta de fortes emoções. Não fosse a preferência pela aventura na escolha dos seus campeões, seria difícil compreender tamanha aposta do banco em um project finance que hoje não passa de uma maquete. Em suas demais incursões para estimular a formação de grandes grupos nacionais, o BNDES sempre se associou, em processos de fusão e aquisição, a empresas lastreadas em ativos próprios e reais. A GraalBio, do controverso Bernardo e do ofuscado Miguel, ainda é uma ficção. Ela pode ser considerada um companhia em estágio prépré- operacional, que nem sequer passou pelo crivo do mercado de capitais e, mesmo assim, recebeu as bênçãos do BNDES. Os Gradin garantem que vão fazer e acontecer, investirão R$ 4 bilhões, produzirão em 20 anos um bilhão de litros de etanol e erguerão dez fábricas de biocombustíveis. Por enquanto, contudo, só possuem memorandos de intenção. Para o bem do contribuinte, a torcida é que o BNDES saiba o que faz com os recursos da Viúva. Já o controverso Bernardo e o ofuscado Miguel não têm a menor dúvida do que fazer com essa dinheirama.
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