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Ternium fixa residência no Brasil se levar a CSA

  • 21/01/2013
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O cenário é árido e a temperatura, tórrida, tal qual a de um alto-forno de aciaria. Os dois oponentes se observam com um olhar gélido e injetado de sangue. De um lado da pista, o vulto suscita a imagem de Giuliano Gemma com um poncho com as cores da bandeira portenha caído sobre os ombros. Na direção inversa, postado como um vergalhão, um clone barroco de Clint Eastwood com traços tipicamente judaicos aquece sua mão na coronha do Colt 45. A cena do bizarro western ?siderúrgico- espaguete? é uma metáfora burlesca do duelo pela aquisição do controle da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), que deve ser concluído até o Carnaval. O Giuliano Gemma da vida real é a Ternium, que remonta ao lendário siderurgista ítalo-argentino Agostino Rocca – velho camarada do Duce. O Clint Eastwood de nervos de aço atende pelo nome de Benjamin Steinbruch, considerado por muitos o maior empresário do Brasil, não obstante o estilo espalha- brasa que o notabilizou. Cada um tem seus trunfos no coldre. Benjamin carrega a bandeira do nacional-siderurgismo. Sabe que, se perder essa contenda, a CSN ficará isolada, cercada de gringos por todos os lados. E a indústria siderúrgica praticamente inteira se tornará um sangrador de divisas. Benjamin conta com o BNDES para se tornar o grande player nacional do setor. Um ponto a favor é sua relação estreita com Luciano Coutinho. Sabe como é… É sempre melhor ter amigos. Desconfortável seria apenas a participação da Vale em 30% do projeto. Não que incomode a presença da mineradora no capital, mas, sim, o acordo de reserva de mercado para a venda de minério de ferro. A CSN teria vantagens em se livrar dessa camisa de força devido a  autossuficiência nesse insumo. No entanto, é bom lembrar que o BNDES, virtual sócio na empreitada, é também controlador da Vale. Noves fora essa inevitável equação mineral, a aquisição alçaria a CSN a um novo patamar. Com a CSA, ela praticamente duplicará de tamanho, passando de 5,6 milhões para 10,6 milhões de toneladas de capacidade instalada. Deixará para trás a ArcelorMittal, que produz cerca de dez milhões de toneladas de aço por ano e é a primeira no ranking brasileiro. A Ternium, por sua vez, adoraria passear com a Vale em uma gôndola de Veneza. A empresa até tem minério de ferro, por meio da Usiminas, porém se trata de uma matéria-prima de qualidade inferior e logística complexa. Os ítalo-portenhos têm a siderurgia no sangue e são considerados excepcionais gestores, vide o exemplo da própria empresa mineira, que chegou a ser tida como um ativo de segunda classe e está sendo tocada com maestria e precisão. Mas a bala de prata que a Ternium guarda para vencer o duelo ao por do sol da CSA é o anúncio da transferência de sua sede da Argentina para o Brasil. Em tese, o grupo viraria empresa nacional. E passaria a ter uma capacidade instalada no país da ordem de 14 milhões de toneladas. Correndo por fora, como um Lee Van Cleef de turbante, os indianos da ArcelorMittal. São conversas ainda nebulosas, já que as tratativas com a Thyssen envolvem a aquisição de uma usina no Alabama. Segundo o Wall Street Journal, a negociação poderia incluir a CSA. O RR acha que o jornalão norteamericano está por fora. Se o pistoleiro outsider vencer a rodada de fogo, aí a coisa fica séria. A ArcelorMittal faria uma festa, disparando no setor, com 15 milhões de toneladas de capacidade. Nesse caso, o western “siderúrgico-espaguete” seria filmado em Bollywood.

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