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Gas Brasiliano inflama relações entre Petrobras e Cemig

  • 27/11/2012
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De um lado, a aspereza, a fala trovejante e o baixo jogo de cintura; do outro, a maciez, o tom de voz quase inaudível dos mineiros e a aptidão congênita para o contorcionismo político. No 23º andar da Petrobras, onde fica a presidência da estatal, há uma enorme curiosidade em relação ao duelo de estilos que está prestes a ser travado entre Maria das Graças Foster e Aécio Neves, espécie de governador vitalício de Minas Gerais e presidente de honra da Cemig. O cenário do embate é a Gas Brasiliano. Sócias da distribuidora paulista, as duas estatais andam a s turras por causa do plano de investimentos da empresa. A Cemig defende o aumento dos aportes no biênio 2013-2014 de R$ 170 milhões para algo perto de R$ 300 milhões. Alega que os recursos previstos não são suficientes para tocar os projetos em andamento, o que poderá afetar a rentabilidade da concessionária. Segundo uma fonte da Cemig, o próprio Aécio teria se comprometido com o governador Antonio Anastasia a usar a tribuna do Senado para alardear o posicionamento da empresa mineira. Procurada, a Petrobras não quis comentar o assunto. Já a Cemig não se manifestou. Ressalte-se que, de certa forma, há um embate entre o simbólico e o real. Para todos os efeitos, Aécio é apenas um brasão da Cemig. Não tem cargo ou mandato para falar oficialmente pela empresa, ao contrário de Graça, praticamente “Ministra da Petrobras”. Graça não está disposta a alterar o programa de investimentos da Gas Brasiliano. Alega que as cifras foram avaliadas e aprovadas pelo Conselho da concessionária. Além disso, ao tomar tal decisão, Graça não olha somente para a Gas Brasiliano, mas, sim, para toda a complexa engrenagem financeira da Petrobras. A companhia tem feito acrobacias para cumprir a  risca seu planejamento estratégico. Qualquer ajuste, por menor que seja, nos recursos alocados para a concessionária paulista terá impacto direto sobre seu próprio plano de investimentos. Um terceiro personagem tem colocado ainda mais lenha na fogueira da Gas Brasiliano. A Agência Reguladora de Saneamento e Energia (Arsesp) vem fazendo críticas sistemáticas a  falta de maiores investimentos na Gas Brasiliano. Por ora, a questão fica restrita ao voluntarismo das autoridades regulatórias. Como o plano de investimentos da concessionária foi aprovado junto a  própria Arsesp, até 2014, a empresa não corre o risco de receber qualquer multa. No entanto, a Cemig tem instrumentalizado o episódio, com o objetivo de pressionar a Petrobras a rever, desde já, a estratégia de investimentos da Gas Brasiliano. Esta pendenga deve ganhar lances ainda mais inflamáveis em breve. Segundo a mesma fonte, a estatal mineira estuda a possibilidade de colocar sobre a mesa uma proposta para comprar 10% da concessionária em poder da Petrobras, dona de 60% do capital. Ou seja: as duas estatais passariam a dividir o controle da distribuidora paulista. Difícil imaginar que a Petrobras abra essa brecha para a Cemig. Mas vale toda a atenção. Aécio se mexe sem fazer barulho.

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