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O “Fitzcarraldo cearense” e o colosso do Mearim

  • 12/11/2012
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O empresário cearense Raimundo Pessoa é uma espécie de versão bem-sucedida do aventureiro Brian Sweeney Fitzgerald. Fitzcarraldo, como era mais conhecido devido a  pronúncia dos silvícolas, tentou construir uma estrada de ferro, a Transandina, e uma casa de ópera na remota cidade de Iquitos, no Alto Amazonas, entre outros projetos tresloucados. Acabou ostentando a comenda de “Conquistador do Inútil”. Pessoa, por motivos bem menos grandiloquentes, também já foi tratado como um empreendedor delirante. Beirando os 84 anos e com uma comunicação verbal traduzida por muito poucos, o empresário vive cercado por raros colaboradores, em um pequeno escritório, com mobiliário franciscano, ínfimo se comparado a  grandeza dos seus planos. Antes que se pense que Pessoa quis levar algum barco nas costas de nativos até o cume de uma montanha íngreme, é bom ressaltar que o empresário costuma acertar mesmo quando erra. Para quem não se lembra, foi dono da Companhia Paraibuna de Metais, um gigante na produção de zinco em seu tempo. Pois bem, quando o negócio desandou “Raimundão” se tornou referência nacional por ter sido responsável por uma das mais espetaculares vendas da história do business nacional. O herdeiro da espada de zinco foi a Previ, em uma operação de compra casada com a Companhia Caraíba Metais, que era quem injetava proteína na então chamada de Companhia Brasileira de Metais. Mas Pessoa passou dessa para uma ambição maior. Cismou de se tornar o “Rockfeller tupiniquim”, adquirindo áreas de exploração nos leilões da ANP. Achou pouco óleo, por enquanto. Mas vindo de quem vem, não é improvável que o insucesso se converta em boa ventura. Entretanto, a mais emblemática demonstração da sua capacidade de transformar castelos de sonho em montanhas de cédulas é o projeto da siderúrgica do Mearim, integrada com um terminal portuário na mesma região, além de uma usina termelétrica. No princípio, Pessoa tinha só o terreno, no município de Bacabeira (MA), e suas ideias. Dessa argila, moldou um projeto que consumiria US$ 6 bilhões em investimentos (valores de 2008). Foi considerado mais megalômano do que o próprio Fitzcarraldo. As considerações sobre a inviabilidade do projeto decorriam desde a falta de recursos até a inexistência de garantia do fornecimento do minério de ferro. O tempo deu voltas, todas elas a favor de Pessoa. O Terminal Portuário de Mearim (TPM), espécie de costela de Adão do idealizado complexo siderúrgico, está prestes a se tornar realidade com a melhor parceria possível. A Aurizônia, empresa de Pessoa, se associou a  Vale em um consórcio para a construção do TPM, que deverá ser um dos ativos da Valor da Logística Integrada (VLI), nova subsidiária da mineradora. O custo do projeto, segundo o governo do Maranhão, é de R$ 4,5 bilhões. O passo seguinte de “Raimundão” seria levantar a siderúrgica, com uma produção de 10 milhões de toneladas de chapas de aço, ou seja, o equivalente a duas Companhias Siderúrgicas do Atlântico (CSA). Pelo menos no plano original, a usina estaria operando a plena capacidade em 2018. Se alguém acha que tempo é um empecilho, “Raimundão” já deixou sua réplica para assumir o comando dos negócios. Adivinhe por que nome atende o sucessor: Raimundo Pessoa. Por isso, e muito mais, há quem diga que ele tornou-se uma dízima periódica. É um dos casos em que a vida imita o folclore até com mais exatidão.

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