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Querer não é exatamente poder – embora ela possa, e muito. Mas Maria das Graças Foster decidiu encampar uma causa polêmica, extremamente impopular entre o empresariado nacional e, acima de tudo, conflitante com o momento de desindustrialização que atravessa o país. Graça tem feito desabrida campanha pela redução do índice de nacionalização de máquinas e equipamentos para a área de petróleo e gás. É bom ressaltar que a medida não tem qualquer familiaridade com o seu ideário. Graça, nacionalista de carteirinha, defende a proposta como se estivesse se impingindo um autoflagelo, quase uma mutilação. Mas, entre o apego a s suas mais arraigadas convicções e o cumprimento do cronograma de investimentos da Petrobras, o pragmatismo falou mais alto. Graça está convencida de que será impossível entregar no prazo os projetos da estatal na área de E&P com o atual coeficiente de nacionalização – que prevê uma cota média de 65% de produtos e serviços made in Brazil. E, dessa vez, nem dá para culpar José Sergio Gabrielli. Até pelo cargo que ocupa, é natural que Graça Foster esteja na linha de frente da mobilização junto ao governo. Esta, no entanto, é uma bandeira hasteada tanto pela Petrobras quanto por outras grandes petroleiras. Há um consenso de que a política de nacionalização pode até ter se alinhado ao pleito de muitos setores da indústria, mas caminhou de costas para os interesses da área de E&P. As empresas de petróleo comungam também a aversão ao trabalho da ANP. A agência reguladora teria se baseado em dados equivocados, que acabaram servindo como referência para o cálculo do coeficiente de nacionalização. Além disso, existe a sensação de que a ANP olhou muito mais para o próprio umbigo do que para o interesse nacional. A entidade teria enxergado na nova política um caminho para aumentar sua influência sobre o setor. A equação é simples: regulação é igual a poder. Quanto mais amarras, mais a ANP mandará. As petroleiras alegam ainda que a medida gerou benefícios a uma miríade de interessados que contribuirão pouco ou nada para a nacionalização do setor. São estaleiros que nunca foram estaleiros, produtores de bens de capital que nunca foram produtores de bens de capital e outras empresas que querem apenas o bem-bom da reserva de mercado, mas não se comprometem com prazos. Há ainda uma leva de fundos de private equity que atuam em toda a cadeia de suprimento para a produção do petróleo, na maioria dos casos apoiando-se em recursos do governo. Para Graça Foster e outros dirigentes do setor, a conta não fecha e ponto final. Segundo cálculos da Petrobras, hoje a indústria nacional não teria condições de atender sequer a 40% da demanda por máquinas e equipamentos. A situação tende a se agravar em 2013, com os leilões do pré-sal. No caso da indústria naval, o cenário é mais dramático. O maior exemplo são as encomendas da Transpetro no âmbito do Promef. No médio prazo, é quase impossível que os estaleiros nacionais garantam o coeficiente de 70%. O gargalo, aliás, começa na base da pirâmide de produção. A Usiminas, que detém praticamente o monopólio no fornecimento de chapas de aço para o setor naval, está longe de suprir a demanda. Isso para não citar a falta de competitividade do produto nacional, até 40% mais caro do que no exterior. Resultado: o que Graça e seus pares querem é a nacionalização possível no horizonte. O coeficiente ótimo, seja lá qual for, fica depois.
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