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CSA e Usiminas puxam as peças do xadrez siderúrgico

  • 26/07/2012
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A Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) pode ser o pivô do redesenho da indústria siderúrgica nacional, que hoje vive o risco de ficar povoada de mausoléus ? leia-se usinas obsoletas, com baixa escala e reduzida perspectiva de investimento. A Usiminas é o melhor exemplo das siderúrgicas que estão virando sucata e cujo futuro depende de uma rearrumação das peças do setor. A companhia mineira é um buquê de ineficiências. Tem problemas de defasagem tecnológica, abriu frentes em demasia, sofre com a baixa capacidade de comercialização e tropeça em um esquema de logística fragmentado, com dificuldades junto a parceiros. A lista de corrosivas limitações da Usiminas inclui ainda a reduzida escala para os atuais padrões de competitividade do mercado e uma rentabilidade minguante e inferior a  da concorrência. No ano passado, seu lucro já havia despencado 74% em relação a 2010. Nos primeiros três meses deste ano, sua performance degringolou. Entre janeiro e março, a empresa amargou prejuízo de R$ 70 milhões, contra perdas de R$ 26 milhões em igual período em 2011. Para efeito de comparação, a CSN também teve um declínio em seu desempenho, mas, ao menos, conseguiu ficar no azul no primeiro trimestre – o lucro caiu de R$ 617 milhões para R$ 110 milhões. Não bastassem esses atributos negativos, a grande aposta da Usiminas – a compra da J. Mendes, que permitiria o autossuprimento de minério de ferro – revelou-se muito aquém da expectativa. O minério é de baixo teor e seu custo de frete, um despropósito. Para se ter uma ideia, a Vale paga cerca de US$ 3 por tonelada no transporte da commodity. A Usiminas gasta dez vezes mais, algo próximo dos US$ 30 a tonelada. Quem chora pitangas com essa operação siderúrgica é a Ternium, que comprou caro uma siderúrgica enferma. O melhor dos mundos para o grupo ítalo-argentino seria voltar no tempo, mas, como este pacto com Cronos não é possível, a segunda boa hipótese é deixar o controle da Usiminas. Uma alternativa idealizada para a Ternium e a Usiminas seria uma dança das cadeiras envolvendo CSN e CSA. O grupo ítalo-argentino venderia sua participação na siderúrgica mineira a Benjamin Steinbruch, que já está apinhado de ações da empresa, mas não conseguiu entrar no bloco de controle. Ressalte-se que a CSN preenche as principais lacunas da Usiminas. Tem minério de boa qualidade e logística inteiramente equacionada. O ônus de quem fica, notadamente a Nippon Steel, seria conviver com Benjamin no Conselho. A incorporação da CSA, por sua vez, permitiria a  Ternium criar o grande bloco de empresas siderúrgicas do Sudeste, partindo- se da premissa de que os ítalo-argentinos têm o compromisso e vão construir um smelter com capacidade para oito milhões de toneladas no Porto do Açu, no Norte Fluminense. Não faltariam ao grupo nem minério – leia-se a Vale, sócia da CSA – nem logística, nem escala. A montagem dessa engenharia é complexa. E, como toda a negociação de grande porte na indústria brasileira, passaria pelo BNDES. De qualquer forma, parece fazer mais sentido do que a hipótese de compra da CSA pela Ternium e pela Nippon Steel, trazendo a reboque no consórcio a enferrujada Usiminas. Se as partes se guiassem pela lógica, o que não necessariamente é intrínseco ao mundo dos negócios, o troca-troca começava já. Em tempo: neste tabuleiro, haveria, sim, a hipótese Jorge Gerdau. Mas, como se sabe, ele sempre quer levar tudo de graça.

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