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Acervo RR
A crise financeira da American Airlines promete ser tornar um peso ainda maior sobre as asas da Embraer. A iminente devolução de 150 aeronaves vendidas a companhia norteamericana há cerca de dez anos pode se tornar um problema ainda mais grave do que se imaginava para a fabricante brasileira por conta de uma série de procedimentos pouco usuais adotados na operação. Segundo uma fonte intimamente ligada a Embraer, a origem da turbulência financeira é uma cláusula do acordo com o BNDES, que, a época, financiou a venda dos aviões. A própria empresa – não o banco, como costuma ocorrer em operações desta natureza – assumiu o papel de garantidor dos contratos de venda das aeronaves. Na ocasião, a diretoria do BNDES não aceitou a responsabilidade devido ao valor envolvido na negociação, cerca de US$ 3 bilhões, e, sobretudo, ao elevado número de aeronaves comercializadas em um só contrato. O comando da Embraer estranhou o incomum posicionamento da agência de fomento, mas, diante da importância do contrato, aceitou as condições e o pedágio. Agora chegou a hora do efeito bumerangue. O contrato impõe a Embraer outra situação inusitada. Com a devolução das aeronaves, a empresa é obrigada a garantir ao financiador – ou seja, o BNDES – 20% do valor original de venda de cada aeronave em caso de negociação para terceiros. Na época, não obstante o setor de aviação civil já apresentar sinais de crise por conta, sobretudo, do 11 de setembro, a direção da Embraer avaliou que o risco de devolução dos aviões era pequeno vis-a vis a importância da operação. Com a depreciação dos equipamentos ao longo de dez anos, calcula-se que cada avião valha hoje metade do preço fixado no contrato com a American Airlines, na época aproximadamente US$ 20 milhões. Ou seja: atualmente, cada avião está avaliado em cerca de US$ 10 milhões. Quanto mais a Embraer vai entrando nesse beco, mais as paredes vão se estreitando. Pelo contrato, para cada aeronave devolvida e revendida, a companhia terá de pagar, portanto, o equivalente a US$ 4 milhões ao BNDES; para cada avião encalhado, será forçada a engolir um prejuízo de US$ 10 milhões. Ou seja: tomando-se como base o número de aviões e seu atual valor de mercado, se a devolução das 150 aeronaves se confirmar, um ativo imobilizado da ordem de US$ 1,5 bilhão cairá sobre o colo da Embraer. A ela caberá encontrar comprador, pagar o tributo de 20% sobre o valor original ao BNDES e reduzir seu prejuízo. Este enredo é uma bombarelógio amarrada ao balanço da Embraer. Procurada pelo RR, a empresa não respondeu ao questionamento se é, de fato, a garantidora do contrato de financiamento. Tampouco informou se este procedimento é usual em contratos no setor, se é realmente obrigada a pagar 20% de comissão ao BNDES em cada aeronave revendida e se existe alguma saída jurídica para a questão. Também não esclareceu se já existem negociações para a venda dos aviões. A empresa limitou-se a enviar as demonstrações contábeis de 2011, na qual comunica ao mercado ter feito uma provisão de R$ 662,6 milhões “por conta do pedido de concordata da American Airlines e das exposições relativas a garantias financeiras quando do financiamento das 216 aeronaves”. O valor da provisão equivale ao quádruplo do lucro da empresa em 2011. Também consultado, o BNDES não se pronunciou até o fechamento desta edição.
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