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Acervo RR
As recentes informações veiculadas na imprensa sobre o suposto interesse da Petrobras em comprar a Refinaria de Manguinhos e transformá-la em uma companhia de tancagem podem até ter um fundo de verdade. Mas, ao que tudo indica, o fundo é um fundinho, bem pequenininho. Mais verossímil é constatar que a notícia já foi e voltou, foi e voltou, inúmeras vezes, tão ao gosto dos operadores do mercado de ações. No bê-á-bá da CVM, a combinação de informações vazadas na mídia e movimentos mais bruscos das cotações só teria uma tradução: a possível tentativa de manipulação de mercado. Supostamente, está se falando de uma fórmula criminosa matusalêmica, que obedeceria a seguinte mecânica: compramse as ações no mercado; soltase o balão de ensaio na mídia; a notícia pedala o papel; como as ações da empresa têm uma liquidez irrisória, os picos e vales das cotações são enormes; é hora de vender na alta as ações compradas na baixa; com a realização de lucro, os preços caem; é hora de recomprar as ações na baixa. Que a operação é suspeita, ninguém duvida. Segundo uma fonte da CVM, não há convicção, contudo, se o processo em questão se trata da instrumentalização indevida de um desejo de venda da companhia, partindo de personagens da própria Refinaria de Manguinhos, ou se é apenas a jogatina de algum espertalhão. O RR fez vários contatos telefônicos e via e-mail com a Refinaria de Manguinhos, mas a empresa não se pronunciou até o fechamento desta edição. Também procurada, a CVM informou que “acompanha e analisa as notícias e operações envolvendo companhias abertas e adota as medidas cabíveis, quando necessário”. A questão é a recorrência do procedimento. A própria história do interesse da Petrobras já saiu em outras vezes – só em uma oportunidade foi devidamente comunicada a CVM. O que se investiga, portanto, é se a empresa do polêmico Ricardo Magro teria ou não alguma responsabilidade nessa “mão leve” no mercado. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas o fato é que o estranho expediente já ocorreu tendo como protagonistas empresas como Grupo Ultra, EBX, Grupo Libra e Braskem. Todas foram citadas como interessadas na aquisição de Manguinhos, que, por sua vez, não desmente e não faz qualquer comunicado legal a autoridade reguladora ou a s bolsas. As ações, então, dão aquele looping. Informações filtradas junto a fontes da própria refinaria indicam que o presidente da companhia, Paulo Henrique Menezes, seria a fonte oficial e “informal” das mídias. Vai muito além dizer que ele seria o operador dos vazamentos. Mas Paulo Henrique carrega consigo o estigma de, supostamente, ter sido o responsável por tentativas, devidamente identificadas, de denegrir a imagem da família Marinho, em resposta a uma série de matérias publicadas no jornal O Globo sobre a situação fiscal de Manguinhos. O controlador da empresa, Ricardo Magro, expoente de uma banca de advocacia e dono de postos de gasolina, é tido como um gênio. Sujeito discreto, de fala baixa, surpreende pelo seu cartel de relacionamentos, que tem como esteios Eduardo Cunha e José Dirceu. Quem o conhece não acredita que ele seja o mentor de uma maracutaia dessas. O fato é que os interesses – reais ou não – da compra de Manguinhos foram destilados em águas barrentas do mercado de ações, onde alguém ganhou muito dinheiro. Cabe a CVM averiguar se a “coincidência” não veste chapéu de burro.
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