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Dilma quer vestir BNDES com um par de calçados

  • 23/01/2012
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A crise na indústria calçadista está apertando os pés da presidente Dilma Rousseff. O definhamento do setor vem sendo tratado pelo Planalto como um assunto de Estado. O ministro Fernando Pimentel foi designado por Dilma para comandar um tour de force capaz de estancar a perda de competitividade, o fechamento de fábricas e o acelerado processo de enxugamento dos postos de trabalho, que atingiu níveis alarmantes com os recentes cortes feitos pela Vulcabras. A operação arquitetada pelo governo é um filme ao qual o Brasil inteiro já assistiu algumas vezes e, gostando ou não, consagrou-se nas telas. A solução passa pela entrada em cena do BNDES no papel de facilitador da consolidação de empresas. O script é o mesmo: a incorporação de uma companhia em notória dificuldade por outra em melhor situação, com as bênçãos da agência de fomento – leia-se a compra de uma participação significativa na nova empresa. No governo, os nomes mais cotados para a operação são o da Grendene, na condição de consolidadora, e da própria Vulcabras. A fusão daria origem a um grupo com aproximadamente R$ 4 bilhões de faturamento anual e muito mais musculatura para concorrer com o grande adversário da indústria têxtil nacional: os produtos chineses. Caso a costura seja levada adiante, o governo já tem na ponta da língua o argumento para contra-atacar as críticas de praxe ao aumento da participação do Estado na economia: é o social, estúpido! O objetivo é frear ou, ao menos, diminuir o frenético ritmo de demissões na indústria têxtil. Aos olhos do governo, a redução dos postos de trabalho alcançou números assustadores com a mais nova leva de dispensas da Vulcabras, realizada no fim de 2011. Somente a empresa demitiu quase nove mil funcionários ao longo do ano passado, numa das maiores devastações de empregos já vista na história do setor. O temor do Planalto é que, pelo peso da Vulcabras na cadeia da indústria calçadista, seus cortes de produção resultem em um efeito cascata, provocando uma extinção em massa de fornecedores. Embora tenham proporções bastante similares – ambas faturaram cerca de R$ 2 bilhões no ano passado -, Grendene e Vulcabras vivem momentos distintos. Além da torrente de demissões, esta última desativou sete fábricas nos últimos meses. Ao mesmo tempo, tem amargado uma performance desalentadora. Entre janeiro e setembro, o faturamento caiu 19% em relação ao mesmo período no ano passado. Nos noves primeiros meses de 2010, a Vulcabras teve lucro líquido de R$ 91 milhões. Em 2011, no mesmo período, registrou um prejuízo de R$ 146 milhões. A Grendene, como todo o setor, está longe de ser a oitava maravilha do mundo. No ano passado, também fez uma série de demissões – nada que se compare ao extermínio trabalhista comandado pela Vulcabras. Teve ainda queda nos resultados, mas irrisórias diante dos números do setor. A empresa tem conseguido se sustentar em um mesmo patamar nos últimos dois anos, o que lhe coloca em flagrante situação de vantagem para uma eventual fusão com a Vulcabras celebrada pelo BNDES. Entre janeiro e setembro de 2011, seu faturamento recuou 12% em comparação com igual intervalo em 2010. Já o lucro teve uma pequena queda de R$ 189 milhões para R$ 183 milhões.

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